Em 1.500 certo marujo teve a primazia
de avistar essa terra de Santa Maria.
Junto, chegaram capitães, soldados e padres em romaria.
Com a primeira missa, fixou-se a intenção: pilhar nunca seria em demasia.
À segunda seguiu-se a ação: domar os nativos e extinguir a selvageria.
Domados e reduzidos a lacaios daquela confraria,
viram os brasileiros que nem Tupã escaparia.
Mas como isto não bastasse na terra da Sesmaria,
rumaram para África e foi a vez do negro pagar por sua heresia.
Qual heresia? Aquela de ter um deus que lhe sorria.
Tomaram-lhe a liberdade, a dignidade e o que mais havia.
Mudaram-lhe até o Deus. Olorum já não se lhe permitia.
Porém, certo dia, certo Napoleão, colocou a Corte em correria
e para cá mudou-se a realeza. A contra gosto todavia.
Contudo, sem opção, estabeleceu-se o reino nessa freguesia,
até que Bonaparte também passasse. Alguns ficaram. Talvez à revelia.
Nas Minas, certo dentista perdeu a cabeça por ousadia.
Sabia o gajo que a Liberdade é a Mais-Valia.
E como tantos outros ousaram esta doce utopia,
não nos queixemos, pois sempre houve quem lutasse contra a vilania.
Rolaram cabeças e amores, mas veio o que tanto se queria:
declarou-se a Independência, ainda que olvidassem da efetiva alforria.
Governos diversos. Ditadura perversas. Até Democracia;
ainda que se esquecessem de acabar com a triste fantasia
de esconder o horror da miséria e expor a falsa alegria
dos bobos das Cortes. Será uma simplória miopia?
Quem sabe? Talvez um dia...
E assim vamos indo nesta triste calmaria.
Patética travessia! Para alguns, somos os reis da folia ...
Armada a lona, o palhaço autêntico que há tempos não se via pergunta:
Tem Marmelada? Têm sim sinhô! É a corrupção que propicia.
Têm latifúndio? Têm sim sinhô! É uma mania.
Têm prostituição infantil? Têm sim sinhô! Turistas gostam de pedofilia.
Têm injustiça social? Têm sim sinhô! É de Deus. É de serventia.
Têm nepotismo? Têm. Mas não fale moço. Ainda lembro da “Otoridade” que me batia.
Têm trabalho escravo? Têm . . mas não fale. Eu nem sei o quanto lhes devia.
E político que se julga patrão e não funcionário público? Tem, por causa da nossa covardia.
Mas não fale . . . sabe como é moço . . . era a ele que eu me vendia.
E agora, seleta platéia, têm solução?
Sei não!
Quem sabe alguém nos auxilia?
Já se fala em CPI, em Rigoroso Inquérito para acabar com esta aleivosia ...
É que são tão poucos os que exercem a quase extinta cidadania.
Até eu, aprendiz inepto de poeta, submeto-me à nova tirania
chamada de Globalização; aquela que uniformiza a minha história, a minha poesia
e que rouba a minha identidade. O que sou e por onde ando já nem sei.
Também ignoro aonde, porque e como errei.
O diabo é que não raro, ao pensar no “7 de Setembro”,
pego-me dizendo que é o “Independence Day”.
Produção e divulgação de TANIA BITENCOURT, desde Florianópolis, no inverno/primavera de 2013.
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