domingo, 9 de setembro de 2012

Estações


Nas faces pardas
os olhares pardos já não brilham.
Talvez ainda mirem a terra que ficou
e a vida que se deixou.
São opacos, baços, pardos.
Três prostitutas idosas
desfilam sua inútil experiência
em vestidos de faillet azul.
Vestidos que voltarão intocados
aos armários em que habitam.
Os olhares pardos não os despiram,
tampouco lhes sorriram
as faces dos homens pardos.
Uma jovem opulenta
ostenta na canela pesada
tatuagens em ideogramas chineses,
quem lhe acompanha
toca um Sax inexistente
e a criança que levam
chora por todos os motivos.
Próximas da "Escada Rolante",
que como o Tempo devora o próprio passar,
falsas ciganas insistem em ler
as mãos vazias do ouro que querem
e surdas pragas acompanham
a moça que queria saber o Futuro.
Na plataforma, beijos
tentam evitar as ausências,
mas é em vão que os abraços
enlaçam os corpos,
pois todos se vão.
Pois todos ficam.
Resta apenas essa bruta vontade
de escrever um poema
e contar como dói
a distância.

3 comentários:

  1. É absolutamente maravilhosa e bela essa poesia, Fabio. Tua alma é repleta de luz e de amor. É uma benção seguir os teus caminhos.

    LB

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  2. "Que como o Tempo, devora o próprio passar...". Caramba poeta, que verso maravilhoso. Que poder de observação que o senhor tem hein. Muito lindo mesmo. Parabéns

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  3. Lindo Fábio, muito lindo mesmo. Saudades

    Inês

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