“Quando
não mo perguntam, eu o sei; quando mo perguntam não o sei”
Aristóteles.
Essa sincera confissão
de Aristóteles coloca exemplarmente
toda a complexidade que envolve o conceito “Tempo”, pois, com efeito, o Tempo é
um “foi” que já não “é”; um “agora” que não se pode deter e um “será” que ainda
não “é”. Enfim, um conceito de tal modo complexo que geralmente deixamos de refletir
sobre o mesmo, como se fizéssemos de antemão uma admissão de nossa incapacidade
de compreendê-lo. Mas, a par dessa complexidade, ou talvez justamente por ela,
o tema nos provoca e para acrescer luzes à questão é que decidimos fazer esse
Ensaio cuja constituição escora-se nos saberes dos grandes pensadores acerca dessa
via em que todos nós caminhamos.
A fonte das pesquisas
foi selecionada nas bibliotecas Geral e do Instituto de Ciências Humanas da
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo
(USP) e se teve o cuidado de transpor o linguajar técnico para o coloquial na
tentativa de extirpar do texto qualquer ranço de pedantismo intelectual e de
facilitar a leitura e o entendimento do tema proposto.
O melhor dos esforços
foi empregado nas pesquisas, nas análises e na redação da presente obra, porém
temos consciência que pela amplitude e complexidade do tema erros podem ter
ocorrido e, por isso, desde já nos colocamos à disposição para fazer as
eventuais correções que tiverem fundamento, enquanto antecipamos nossas
desculpas por falhas involuntárias que possam existir.
O inicio das reflexões
Desde o nascedouro da
Filosofia que os conceitos de Tempo e de Espaço frequentam as mentes dos sábios.
Mas se o Espaço, a despeito de sua igual complexidade, oferece certa facilidade
por ser de algum modo análogo à matéria, ao concreto, permitindo supor algum
tipo de mensuração, o Tempo mostra-se ainda mais difícil de ser compreendido
por ser absolutamente abstrato, imaterial, ainda que perceptível indiretamente.
Todavia, essa
dificuldade não impediu que os sábios de todas as épocas se dispusessem a
estudá-lo e na medida do possível, defini-lo. É certo que são conjecturas e/ou
teses, pois como se disse a impossibilidade de lhe mensurar não permitiu o
estabelecimento de Leis cientificas que eliminassem os contraditórios e as duvidas.
De todo modo, as ilações são amplamente respaldadas pelo brilho de seus
emitentes e, também, pela proximidade com a mais pura lógica, conferindo-lhes o
caráter de teorias aceitáveis até, pelo menos, que novas tecnologias surjam e
permitam novos avanços nessas investigações.
O Tempo, segundo os
Filósofos.
Como não poderia deixar
de ser, a coleção de teses a ser exposta inicia-se com os pensamentos dos mestres
gregos, cujo modo de pensar era basicamente intemporal. Enquanto, por exemplo,
os hebreus priorizavam o “passar”, os gregos valorizavam o “estar”, ou a
“presença”. Essa intemporalidade não significa, é claro, que a cultura helênica
carecesse de noção de Tempo já que o “conheceram”, como as outras culturas,
através dos movimentos cíclicos dos corpos celestes (Lua, estrelas, Sol etc.).
E foi essa associação
do “Tempo” com o “Movimento dos Corpos Celestes” que levou os Filósofos pitagóricos
á definirem o Tempo como “A Esfera que abrange tudo”, ou seja, a “Esfera
Celeste”, numa clara vinculação com o “movimento do céu” que graças à sua
regularidade permite a sua correta medição (a regularidade das fases da Lua,
do nascer e do por do Sol, da chegada do inverno, do verão etc.).
Platão
Seguindo essa vertente,
o grande mestre Platão definiu,
então, que o Tempo é: “A imagem móvel da
Eternidade”. Com isso, afirmou que com o movimento das estações (inverno, verão,
outono e primavera) e com os movimentos menores (noite, dia,
mudança das horas etc.) o Tempo é como uma pintura que nos
permite “ver” os movimentos, os quais, sendo cíclicos, são eternos. Permite-nos,
de alguma forma, “enxergarmos” a Eternidade.
Essa concepção
platônica passou imediatamente a integrar o ideário grego (e o
de
outras nações europeias),
alterando
principalmente a conjugação dos verbos que a partir de então deixaram de representar
“ações” para representarem “aspectos” de uma totalidade. A tendência em ver o
temporal como um “agora”, ou, então, como uma série repetível de ciclos; ou,
ainda, como uma “Eternidade superior” à simples temporalidade do cotidiano
consolidou-se e reconfirmou a ideia do “tempo que passa” como uma manifestação
de uma “presença” que não passa. Que é imóvel.
Essa posição sinaliza
para muitos eruditos que as conjecturas do mestre Platão podem ter uma
importância maior do que se supunha para o seu Sistema filosófico, pois, analisando-se
como ele concebeu alguns “Passados remotos”, observa-se que talvez os
considerasse como “Ideias” ou “Modelos” ou “Padrões” para o Presente, tal qual
fez com as outras “Ideias” que são consideradas os “Modelos” para as coisas
respectivas. Alguns estudiosos afirmam
inclusive que todo o seu “Mundo das Ideias*” originou-se precisamente dessas
reflexões sobre o Tempo.
De acordo com essa
óptica, para ele a Eternidade seria a “Ideia” ou o “modelo original” do Tempo, analogamente ao que ocorre, por
exemplo, com a “Ideia Cavalo” que serve como “conjunto de instruções” para que
os cavalos físicos, concretos sejam feitos pelo demiurgo. E tal como acontece
com outras “Ideias” ou “Modelos” e a respectiva cópia material, a “Ideia Eternidade”
possui uma “cópia” muito próxima que é o perpétuo movimento circular das
esferas celestes.
Essa proximidade,
aliás, reforça a tese de que “Tempo e Movimento” são vinculados, independentemente
da dimensão e do tamanho do movimento, já que não só o das esferas celestes
apresenta um “antes” e um “depois”. Todo movimento, ou toda ação,
caracteriza-se pelo momento precedente, pelo momento presente e pelo que
acontecerá, mesmo que seja uma interrupção brusca, pois, então, nesses casos, a
mesma se dará no “Futuro”.
Aristóteles
Antes de avançarmos
para o discípulo será oportuno uma última palavra sobre o mestre Platão. Ao
tecer a sua tese sobre o Tempo, vinculando-o ao Movimento, o sábio,
paralelamente, comprovou logicamente a existência de ambos, pois se o movimento
pode ser captado pelos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato),
a medição do Tempo, só pode ser feita através do raciocínio por ser abstrata,
ainda que certos fenômenos como a escuridão da noite e claridade do dia
seguinte, possam ser percebidos sensorialmente.
Isto colocado,
avancemos para as ideias do Estagiarita.
Embora também tenha se
utilizado do “movimento”, ou do “conceito de movimento” para criar a sua definição,
Aristóteles esforçou-se para conceituar o Tempo de modo a não fazer do mesmo
uma mera cópia, ou imagem, da “Eternidade” como fora proposto por Platão.
Para ele, o Tempo e o
Movimento são percebidos juntos, pois mesmo no escuro total, quando se fica
incapaz de se perceber qualquer mudança nos corpos, ou nas coisas, basta um
movimento na mente, no pensamento, para que se saiba de que o Tempo está passando.
Por isso, segundo ele, o Tempo “tem”
de ser o Movimento, ou algo relacionado a ele.
Para Aristóteles, no
conceito de Tempo, ou de “sucessão temporal”, estão embutidos os conceitos, ou
as definições, de “antes”, de “agora” e de “depois”, sendo o primeiro e o
terceiro de valor fundamental, já que sem eles não haveria sequer a própria
“sucessão temporal”. Dessa constatação deriva a definição de que o Tempo é o “número,
ou a medição, do movimento”. O Tempo passa a ser visto como uma espécie
de número, haja vista que toda medição só pode ser feita numericamente e isso,
de certo modo, torna-o uma “realidade numerante”, onde o “agora” representa a
realidade no momento em que é percebida, vindo daí a sua também enorme
importância. Desse modo, observa-se que Aristóteles considerou o Tempo como um
“modelo” ou “padrão”, mas como fez com as outras “ideias” e suas “cópias”, não a
colocou em “outro local”, mas concebeu-o como “algo” que se move junto com o
próprio movimento.
A definição de Tempo
que Aristóteles promulgou foi a que mais influenciou os pensadores que lhe
sucederam. Alguns pretenderam inclusive sofisticar a sua ideia, como ocorreu
com os Estoicos que introduziram na “medição do Movimento (celeste)” as noções
de “intervalo” e de “velocidade”. Dentre estes, Crisipo definiu o Tempo como o “o intervalo do movimento em relação
ao qual se determina sempre a medida da velocidade maior ou menor”. Contudo,
essa ideia de “intervalo” desde a origem apresentou sérios problemas, pois
nunca se elucidou o que seria esse “intervalo”, já que os Estoicos nunca
avançaram em explicativas, limitando-se a propor – especialmente com os
paradoxos de Zenão de Eleia – que o Tempo seria formado por
uma espécie de “partículas temporais indivisíveis”, numa tosca analogia com a
ideia dos átomos físicos que formam a matéria.
Outros pensadores de
tendências variadas também propuseram definições para o Tempo e o conjunto das
mesmas acabou sendo dividido em duas vertentes: Absolutistas e Relacionistas, sendo:
Absolutistas: Os adeptos dessa
corrente advogavam que o Tempo seria uma Realidade completa em si mesmo.
Relacionistas: Seus defensores
afirmavam que o Tempo não seria uma Realidade por si
mesmo, mas, em verdade, uma “Relação”, ou seja, sempre Relacionado a outra
coisa. Ou, então, pertencente, ou não, ao puro domínio da psicologia (ie. existente
apenas na mente, na alma do indivíduo).
Plotino
Trabalhando sobre a
tese de Aristóteles, Plotino aventou
a possibilidade de se elaborar uma “Teoria
Absolutista” já que o Tempo é algo real na alma (ie, existe efetivamente na
consciência, ou na mente dos indivíduos) e, também, uma “Teoria Relacionista” haja vista que para
medi-lo a alma tem que necessariamente relacioná-lo a algum parâmetro. Para
ele, consequentemente, o Tempo não pode ser (apenas) número e medida do Movimento
porque também tem a sua própria realidade na mente, ou alma, do homem. Seria necessário,
portanto, definir o Tempo como fez Platão que o conceituou como “a imagem móvel da Eternidade”, já que
essa definição abarca as duas teorias. Plotino também afirmou que o Tempo é
“inferior” a “Eternidade” já que a Alma (ou a mente, ou consciência)
o “abandona” quando se recolhe no Inteligível. Em outros termos, grosso modo,
pode-se pensar que a mente humana só se relaciona com o Tempo enquanto vive a
sua vida concreta, física, pois a partir da morte e da suposta volta ao
Absoluto, ou Inteligível ou Deus ela passa a ser atemporal. Supondo-se a
existência de vida após a morte, como acreditavam os Neoplatônicos e como creem
os religiosos atuais, vê-se que durante a existência material do homem, este
“viveu no tempo”, sob a sua influência e debaixo de seu jugo. A sua própria
vida, a “duração*” da mesma, confundiu-se com o próprio Tempo, porém, extinta a
vida física e o movimento a ela inerente, o Tempo deixa de existir por ser
inútil. Por isso Plotino afirmou a sua inferioridade em relação ao Absoluto, ou
Eternidade.
Nota
do Autor – Duração – período de vida de uma coisa, de um Ser ou de um
acontecimento, limite de sua existência.
Santo Agostinho
Na Idade Média
encontramos o maior dos Filósofos Escolásticos, Santo Agostinho sobre quem se diz ter sido o primeiro a formular uma
tese teológica e filosófica cristã sobre o enigma do Tempo.
Geralmente se pensa que
há em Santo Agostinho dois modos de refletir sobre o tema, mas, na verdade, são
apenas duas maneiras de se pensar no assunto; ou seja:
1 – O Tempo como
“momento de Criação (divina)”
2 – O Tempo como
“Realidade física, concreta”.
Essas facetas estão
intimamente associadas e as dúvidas que suscitam certamente contribuíram para a
proverbial “perplexidade” de Agostinho ante a temática. Contudo, essa
perplexidade do Pensador acabou sendo anulada, ou atenuada, quando ele alterou
o eixo da questão e passou a considerar o Tempo inserido no domínio da mente ou
da alma, ao invés de considerá-lo como algo externo, como fazemos com as outras
coisas, seres e objetos. Segundo as suas palavras:
“A alma e não o corpo é a
verdadeira medida do Tempo”.
Afinal, o Futuro é o
que se espera; o Passado é do que se recorda e o Presente é aquilo a que se
dedica atenção. Vê-se, pois, que as percepções que se tem do Tempo estão
diretamente ligadas às operações mentais, ou da alma.
Santo Agostinho, como
se viu, assumiu a teoria da subjetividade do Tempo retirando-o do domínio
material e científico e realocando-o no terreno da mente, da alma individual.
Fez, a rigor, um exercício da mais pura lógica dada à abstração (não
materialidade) do “elemento Tempo”, cujo abrigo melhor
se faz em compartimentos e condições que se adequam a essa sua característica.
Mas essa visão “intimista ou psicológica” não atendeu apenas aos apelos da
Lógica formal, já que também se propôs a estabelecer a versão teológica, ou religiosa,
como a mais correta definição sobre o Tempo.
Santo Agostinho
demonstrou muita atenção ao tipo de realidade que forma o Tempo, pois, como
tudo mais, também ele seria uma “Criação (divina)”.
Aliás, para o Pensador seria impossível imaginá-lo como preexistente a Deus já que
Ele é anterior a tudo e a Causa, ou a origem de todas as coisas.
Assim sendo, o Tempo
tendo sido criado por Deus, “deve” ser formado por alguma coisa, a qual, no
entanto, é inferior à Eternidade e justamente por isso incapaz de delimitá-la,
ou medi-la. Pode-se inclusive pensar que a Eternidade seja um “Presente
contínuo”.
Santo Tomas de Aquino
Com essas questões, o
conceito de Tempo passou de Santo Agostinho para São Tomaz de Aquino e outros Filósofos medievais que a parte divergências
pontuais, tinham como centro de convergência a premissa teológica embutida na
questão.
Tomas de Aquino foi um
fiel seguidor de Aristóteles em vários pontos e também nessa questão ao aceitar
a sua definição de Tempo como algo estreitamente vinculado ao Movimento (Celeste, ie,
dia, noite, inverno, verão etc.). A saber:
“O Tempo é o número (ou a medida, a
medição) do Movimento, segundo o ‘antes’ e o ‘depois’”.
Contudo, é importante
observar que essa definição refere-se apenas ao “Tempo Natural”, ou físico (dia, noite, verão, inverno etc.)
e não ao “Tempo teológico ou religioso”,
até porque não custa lembrar a posterioridade do Cristianismo em relação ao
aristotelismo. Para ele e adeptos, considerações sobre essa questão passaria necessariamente
por reflexões sobre a Eternidade e desse fato resultou que a maior parte das
ponderações Escolásticas sobre o Tempo se encontram sob essa rubrica.
Contudo, independente
da rubrica que as abriga, é possível observar que vários Pensadores da época retomaram
a ideia de Santo Agostinho sobre o Tempo estar mais associado com a Alma (ou mente,
consciência) e buscaram encontrar o eventual
relacionamento existente entre esse “Tempo
interno” e o “Tempo exterior” anunciado
por Aristóteles e que Santo Tomaz ecoava. Essas buscas, aliás, levantaram
várias questões:
1 – O Tempo pode ser,
ou não, a medida, ou a medição do Movimento?
2 – E se for, essa
medição estará “fora” ou “dentro” da Alma?
3 – Haverá um “Tempo
Cósmico” diferente do “Tempo vivido”?
Etc.
Avicena e Duns Scott
Dentro da esquemática
acima, outros eruditos medievais desenvolveram os seus estudos, sendo que um
dos mais destacados foi Avicena, que
junto a alguns adeptos, proclamou que o “antes” e o “depois” estão na
Inteligência (ou na Alma, na consciência, na mente),
mas que tal permanência pode ser interpretada de maneiras diversas, haja vista
que a “Inteligência” também pode ser entendida de diversos modos.
Outros sábios procuraram
conciliar as concepções conhecidas como: “externas” e “internas”. Duns Scott, por exemplo, afirmou que o
“material” que forma o Tempo (o Movimento) está no “exterior”,
fora da Alma, ou da mente; enquanto
que a “Forma” do Tempo (a medição do movimento)
está no “interior”, no intimo da mente, ou da alma.
Descartes, Spinoza, Locke.
Na Modernidade, as
questões teológicas, físicas e psicológicas continuaram a frequentar os debates
sobre o Tempo. Pensadores como Descartes,
Spinoza, Locke e outros se debruçaram sobre a problemática e desenvolveram
as suas ideias em verbetes a que chamaram de “duração”, “infinito”, “instante”
etc. Exceto algumas divergências pontuais, as concepções sobre o Tempo passaram
a orbitar em torno da problemática de como relacioná-lo com as coisas físicas,
concretas e/ou com os fenômenos naturais.
É certo que no transcorrer
desses debates surgiram várias complexidades, mas é possível simplificar-lhes
dizendo que as definições que despontaram nos séculos XVII e XVIII – 1650 a
1750 – seguiram o modelo usado para se conceituar o Espaço, o qual, geralmente, é imaginado de três modos:
1 – Como uma realidade
em si mesmo, independente das coisas que “estão” nele.
2 – Como uma
propriedade, ou uma possibilidade, das Coisas e especialmente das Substâncias,
ou Essências, das mesmas.
3 – Como uma relação ou
uma ordem.
Por analogia, passou-se,
então, a definir o Tempo como:
1 – Realidade absoluta.
2 – Propriedade
3 – Relação.
Dessa trinca, o segundo
modo foi o que menos atenção recebeu, pois, com efeito, era difícil supor o
Tempo como uma propriedade, ou característica, das Coisas, quer entendendo-se
essa propriedade como algo real, físico, presente nas coisas, ou simplesmente
como uma ideia. Ademais, convencionou-se que seria correto ter-se uma
“realidade universal (ou geral, para todos)”
que servisse de medida, ou padrão, das “durações” individuais, já que ao
contrário haveria tantos “tempos”, “ou durações de tempo” quanto fossem as
existências individuais. Assim, a atenção se concentrou sobre os dois outros
modos e se consolidou as concepções que já haviam sido colocadas:
1 – Realidade Absoluta,
isto é, a realidade em si, independente das coisas.
2 – Relacional, ou
Relacionista, ou seja, sua existência está relacionada a algo.
Porém, optar por uma
dessas alternativas deixou de ser excludente e teve inicio a ideia de se juntar
aspectos de cada uma das teses para compor-se uma definição abrangente. Dentro
desse espírito, “Absolutistas” e “Relacionistas” concordaram que o Tempo
físico, ou cósmico é contínuo, ilimitado, isotrópico (ie. tem uma
única direção e uma única dimensão), homogêneo e fluente
de modo uniforme.
Newton
Embora as concepções de
Newton e Leibniz pareçam complexas num primeiro momento, é possível simplificá-las
e com isso observar que Newton adota
a feição “Absolutista”, enquanto Leibniz, a versão “Relacionista”.
A concepção “Absolutista” de Newton pode ser
encontrada em sua obra principal Principia Matemática, onde ele
afirma que “o Tempo Absoluto verdadeiro e
matemático, por si mesmo e por sua própria natureza, flui uniformemente sem
relação com nada externo, sendo também chamado de ‘duração’”.
Mas, sem radicalizar a
sua posição, Newton avança na questão e concede que também exista o “Tempo Relativo” que ele descreve da
seguinte maneira: “o Tempo Relativo,
aparente e comum, é uma medida sensível externa da “duração” feita através do
movimento (celeste, ie. dia-noite, estações etc.)”. Em outros
termos, o Tempo comum, que utilizamos no cotidiano, é uma medição (dias, horas,
meses etc.) dos movimentos celestes que fazemos com
o auxilio dos nossos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato).
Alguns eruditos
observam que Newton fala de um “Tempo
Absoluto”, mas, na verdade, ele se utiliza de um conceito de Tempo que
poderia ser chamada de “operacional”, já que nele busca fundir todas as
definições de Tempo num conceito Absolutista diferente; ou seja, o Tempo é
independente das coisas e ele lhes serve de “quadro vazio” já que as mudanças
ocorridas nas mesmas são incapazes de lhe alterar. É imaginado como algo
completamente homogêneo onde nenhuma parte (ou nenhum instante)
difere de qualquer outro.
Outro ponto das
reflexões de Newton que merece destaque é referente ao fato de que a fluidez do
Tempo pode fazer parecer que existe diferença entre o momento “antes” e o
momento “depois”, mas trata-se apenas de uma aparência que só ocorre no Tempo
Relativo quanto o “antes” e o “depois” só existem em relação a algum evento ou
fato. Como no caso do Tempo Absoluto inexiste essa vinculação a qualquer coisa,
a suposta diferença inexiste.
Clarke
A afirmativa newtoniana
acerca do Tempo Absoluto foi elaborada em grande parte para embasar sua teoria
de que o Tempo não exerce nenhuma ação causal; ou seja, ele não promove nenhum
acontecimento e nem é a causa ou o motivo de qualquer evento. Com essa posição,
Newton já sinalizava a sua indisposição para adentrar mais profundamente nas
implicações teológicas e metafísicas associadas ao tema, porém alguns de seus
seguidores, especialmente Clarke,
foram às últimas estações teológicas embutidas na concepção do Tempo Absoluto.
Leibniz
Em sua polêmica contra Leibniz, Clarke aparentemente se mostra
mais interessado na questão do Espaço, que como “Espaço Absoluto” havia sido
proposto por Newton como Sensorium Dei.
Contudo, grande parte do que ele diz sobre essa questão está associada ao que
ele supunha acerca do Tempo, que, conforme sua crença, tanto quanto o Espaço é
“uma quantidade real”; ou seja, Absoluta. Leibniz contra argumentou reafirmando
a sua concepção “Relacionista”, da qual tece comentários em sua obra Os
fundamentos metafísicos da Matemática onde afirma que o Tempo “é a ordem (ou o ordenamento) das coisas que
não são simultâneas”. Isto é, o Tempo é o ordenamento de todas as mudanças
quando não levamos em conta as classes particulares dessas mudanças.
Depois, dirigindo-se
diretamente a Clarke, disse que como o Espaço que é um “ordenamento de coexistências”, o Tempo é “um ordenamento de sucessões”. Com isso, segundo sua ótica,
comprova-se que os instantes (ie. os intervalos de tempo)
não são “nada” se considerados sem as “coisas” e essa condicionante reafirma a
validade da concepção “Relacionista”.
Por essas razões
Leibniz afirmou que do ponto de vista teológico a sua “doutrina relacional”, ou do “Tempo
Relativo” é a única aceitável, já que apenas ela torna possível conceber
que a imensidão de Deus seja independente do Espaço, enquanto a Sua eternidade
seja independente do Tempo.
O senso comum
Colocadas essas últimas
argumentações observa-se que a concepção aristotélica de Tempo (uma quantificação
do movimento) está mais próxima do senso comum que as
de Newton e de Leibniz, contudo importa considerar que o senso comum não tem a
importância e a universalidade que geralmente lhes são atribuídas. Ademais é
preciso considerar as suas alterações regulares que geralmente são promovidas
por novas descobertas, ou novas teorias nascidas durante o correr da história.
Assim, dentro dessa expectativa, pode-se pensar que as premissas da “Mecânica de Newton” que propõem a ideia
de que a existência de um “Tempo
Relativo” depende da existência do “Tempo
Absoluto” possam ser aceitas pela maioria, convencida, enfim, de que se não
há um instrumento capaz de medir o “Absoluto” é razoável concluir que as
medições de Tempo sejam feitas em relação a algum sistema de referência.
Imanuel KANT
Avançando na história,
encontramos Kant que apresentou um grupo de teorias sobre o Tempo, as quais podem
ser vistas em suas várias obras. A saber:
1-
Em “Estética Transcendental”.
2-
Em “Analítica Transcendental”
3-
Nas várias sínteses e no esquema das
Categorias.
Na “Estética
Transcendental” Kant aproxima-se da concepção newtoniana, mas em vez de
classificar o Tempo como uma “essência”, ou “uma coisa em si” define-o como uma
condição indispensável para que as coisas e os fatos tornem-se aparentes e
captáveis pelos Sentidos (tato, visão, audição, paladar e olfato).
Também afirma a
impossibilidade do Tempo ser “empírico”, ou seja, percebido através de
experiências; sendo, antes, uma representação, ou uma ideia que subjaz nas
intuições do homem. Em outros termos, seria “algo” que está no subconsciente do
indivíduo e é a base de todas as intuições que lhe ocorrem. Seria, em suas
palavras, “uma forma de intuição a priori (por já estar na mente antes que
qualquer experiência tenha sido feita)”. Essa sua posição
também se aproxima daquela exarada por Leibniz, mas ele nega que o Tempo seja
uma relação ou uma ordem, pois isto o caracterizaria como um conceito
intelectual (fruto de reflexões racionais)
e não uma “intuição pura” que antecede a qualquer racionalização.
Por outro lado, o Tempo
não é “subjetivo” por não ser uma “experiência vivida por um indivíduo” e
também por isso não pode ser entendido como “real”, ou físico. Tampouco pode
ser julgado como um acordo entre os homens, ou seja, uma convenção arbitraria.
Assim sendo, Kant
afirma que Tempo concebido como “representação a priori” é “Transcendentalmente
Ideal (uma
“ideia” que está acima e além da percepção via Sentidos [tato, visão, audição,
paladar e olfato] e da própria racionalização)”
e empiricamente real, sendo, porém, este empirismo diferente do vulgar, já que
esta concepção do Tempo refere-se às Percepções ou Intuições e não aos Juízos (ou Julgamentos)
que dependem das experiências para serem exarados. Aliás, quando os julgamentos
surgem, o Tempo exerce outra função, ou seja, a função sintética, pois nenhum
julgamento seria possível se não se baseasse numa síntese que, por sua vez,
baseia-se no uso de um ou vários conceitos do entendimento que só são possíveis
graças à medição do Tempo.
Por tudo que se viu
depreende-se que a pergunta “o que é o Tempo”
ocupa um papel central em sua Filosofia, sendo mesmo a condição indispensável
para que indivíduo possa conhecer algo (tornar-se cognoscente)
e para que se forme ou se constitua objetivamente um fato ou um acontecimento.
Outros exemplos ainda poderiam ser pinçados da interpretação que Heidegger fez de sua Crítica
da Razão Pura, mas seria debalde, pois nada acrescentariam de diferente.
Hegel
Hegel associa a
temporalidade com a noção do “Devir (Movimento Perpétuo)”
e o caracteriza como “Espírito”, sem nada de objetivo, ou concreto, que se
desdobra infinitamente já que é intemporal por ser eterno. Assim, a
temporalidade (quando perceptível)
é só uma manifestação desse mesmo “Espírito”.
Essa duplicidade entre
temporal (mesmo
que só uma manifestação) e intemporal também pode ser vista
em várias outras teorias filosóficas do século XIX, principalmente naquelas de
tendência “evolucionista” que afirmam ou pressupõe que algo que existe, só
existe enquanto se desenvolve temporalmente (em outros termos, um homem que
morre e que não segue a marcha do tempo não existe, por exemplo.).
Desenvolvimento este que obedece a um planejamento biológico, ou divino etc.,
situado além do Tempo.
Temporalismo - Dilthey
e Bérgson
A origem da noção de
Temporalismo ainda é obscura. Ainda é incerto o inicio da atribuição de importância
capital à noção de Tempo que se observa em várias tendências contemporâneas,
aparecidas principalmente nas ultimas décadas do século XIX.
Alguns estudiosos
julgam haver um fundo de “Temporalismo” nas Filosofias Românticas que tanto
insistiram no quesito “história”. Outros situam o inicio a partir de uma reação
contra certas formas de “Evolucionismo” oitocentista (século XIX).
Todavia, inobstante a sua origem o certo é que vários Filósofos fizeram do “Tempo”,
da “Temporalidade”, do “Temporal” etc. o ponto central (ou quase)
de seus sistemas como se pode observar, por exemplo, nas filosofias de Dilthey e de Bérgson.
O temporalismo de
Bérgson, por exemplo, é o resultado de sua censura à Filosofia de Spencer e outros cujos sistemas se
fundamentam no desenvolvimento temporal (ou na marcha do Ser durante um
intervalo de tempo) sem
que eles dediquem maior consideração ao Tempo em si, reduzindo-o a uma forma de
espaço.
E a preocupação de
Bérgson com a noção de “duração”, ou “duração real”, ou “pura qualidade”, ou “objeto
da intuição”, ou a “própria intuição” etc. levou-o a certa “Metafísica
temporalista” na qual ele propõe existir um “Tempo verdadeiro (absoluto)”
e um “Tempo falsificado e espacializado (relativo e dependente de outros
fatores para existir)”, retomando, talvez de modo mais
elaborado, as antigas concepções Absolutista e Relacionista.
Já Dilthey valeu-se do
Tempo enquanto história, ou seja, utilizou largamente o conceito de “Tempo histórico”
para desenvolver as suas teses.
Idealismo – Husserl
Outros Filósofos que
adotaram o Idealismo* como cerne de suas sistemáticas também fizeram do Tempo o
ponto nevrálgico de seus esquemas de pensamento.
Dentre esses, reluz Husserl que diferencia o que chamou de “Tempo fenomenológico” do chamado “Tempo cósmico, ou objetivo (no sentido de
geral, não individualizado)”, sendo o primeiro a forma
unitária das vivências, ou as vidas individuais, dentro de um fluxo geral do
“vivido”; enquanto o segundo seria aquele que em relação ao “Tempo
fenomenológico” assume a condição de ser a sua “essência”, a qual é indispensável
para haver a ligação de uma vida individual com as outras vidas individuais.
Para Husserl a vivência
real, ou física, é uma espécie de “temporalidade” que se aproxima da noção de
“duração” ou “acúmulo” bergsoniana*.
Heidegger e outros
Graças ao volume e a
profundidade de suas reflexões sobre o tema, Heidegger passou a ser conhecido como o “Filósofo do Tempo”, mormente no inicio de sua carreira quando ele
é chamado de “o primeiro Heidegger”.
Com efeito, a ele se deve, em grande medida, a junção entre os conceitos de
“Tempo e Ser” da qual resultou uma
nova maneira de se conceber a questão. A sua obra “O Ser e o Tempo” abriu novos horizontes para a Filosofia e ainda
hoje é considerada como essencial para o debate do assunto.
Outros eruditos
seguiram-lhe a trilha e o conjunto dos mesmos produziu um vasto cabedal de
reflexões fenomenológicas** e ontológicas**, corroborando, especialmente na
Alemanha, a ideia de associação entre o Tempo e o Ser. Exemplo dessa tendência
pode ser visto em Anton Neuhausler
que estabeleceu o seguinte critério para se estudar a questão:
1 – Examinar a
fenomenologia do Tempo.
2 – Estudar a relação
entre o “Tempo imanente” e o “Tempo transcendente”; ou seja, aquele
que vai além da consciência humana.
3 – Fazer uma análise
do “Ser” do Tempo.
Analiticamente este
esquema revela que:
1 – A fenomenologia do
Tempo ocupa-se de fenômenos temporais como a “sucessão”, o “agora”, a “duração”,
etc.
2 – O estudo da relação
entre os tipos de “Tempo Imanente” e “Tempo Transcendente” visa sondar até
que ponto os dois tipos possuem estruturas semelhantes, fazendo com que a
relação entre ambos tenha sentido.
3 – A análise do “Ser”
do Tempo (o
que é o Tempo) permite sair do conceito de Tempo como
simples “sucessão” proporcionando a oportunidade de investigar a sua natureza e
a sua relação com a Eternidade.
Nota
do Autor – fenomenológicas e ontológicas
- (ie.
sobre o Tempo captável e enquanto Essência ou Substância)
Einstein
Os seguidores de
Heidegger, não obstante divergências pontuais convergiram na forma de tratar o
Tempo de um ponto de vista metafísico, embora reconhecessem a importância do
modo como a Física lidou com a questão, principalmente na Idade Moderna através
de Newton e a partir de Einstein com
a sua Teoria Geral e Teoria Especial da Relatividade.
Em Newton já havia um
conceito “relativo” do Tempo, mas o mesmo estava encaixado num conceito “absoluto”;
ou seja, as medições do Tempo seriam relativas a um “Tempo Absoluto” que flui
sem qualquer associação com algo exterior a si. Já na Teoria Especial da Relatividade o Tempo se relativiza inteiramente
porque se transforma em um sistema de referência que pauta todas as observações
e medidas, fazendo com que deixe de existir uma “simultaneidade absoluta”, já
que um acontecimento pode ser simultâneo para um observador e não ser para
outro.
Contudo, importa
observar que isso não significa uma relativização do Tempo no sentido
subjetivo, nem num sentido aos moldes do “transcendentalismo kantiano”, já que
a “Relatividade do Tempo”, vinculada às outras “relatividades” da Teoria
Especial, possibilita que as Leis do Universo sejam as mesmas para todos os
observadores, descartando com isso uma eventual necessidade de um “observador
cósmico”.
Outro ponto de reflexão
refere-se ao que na Teoria da
Relatividade Geral foi chamado de “fusão do Tempo com o Espaço”, quando o
Tempo é dado como uma quarta coordenada, ou melhor, quando “espaço e tempo” são
dados como coordenadas em um Universo tetradimensional. Para alguns essa fusão
seria uma “espacialização do Tempo”, mas é importante observar que a fusão não
significa que o Tempo seja pensado como se fosse espaço, pois, a rigor, o
Universo Tetradimensional compõe-se de três dimensões (altura, largura
e profundidade) mais uma: justamente o Tempo. Por isso,
mais acertado será dizer que a Teoria não propõe a “espacialização do Tempo”,
mas o contrário, ou seja, a “temporalização do espaço”.
M.
Capek
Segundo M. Capek na Teoria Geral da Relatividade todo Movimento, acelerado ou não,
resulta naturalmente da estrutura de espaço-tempo. Ele também afirma que a Lei
da Inércia e as outras concepções sobre o Tempo produzidas por essa tese foram
geradas ou suscitadas a partir da medição temporal dos processos físicos em
“pequena escala”, como os intranucleares, ou subatômicos.
É o caso, por exemplo, da
possibilidade de que nesses processos sejam observadas séries temporais diferentes
das que surgem na Macrofisica ou Megafisica (a Astrofísica), pois embora ainda
restem várias perguntas não respondidas já é consenso que na Física Subatômica
deve-se lidar com o Tempo de maneira diferente da que ocorre na Macrofisica.
Essa mudança na forma de se pensar o Tempo pode ocorrer de várias maneiras,
sendo, no entanto, que a questão da “medição temporal” é a que mais chama
atenção dos estudiosos, pois através da mesma ressurgiram várias dúvidas, entre
as quais aquela referente ao fato do Tempo ser contínuo ou discreto (fragmentado,
descontínuo).
Alguns setores da
Física atual conseguiram medições do Tempo tão precisas e detalhadas que isso
levou alguns eruditos a corroborarem a hipótese de haver anomalias na estrutura
do Tempo, avalizando o discurso de Capek, o qual, se confirmado como válido e
verdadeiro, fará com que se sejam revistos os conceitos, passando o Tempo a ser
visto como uma realidade similar às “partículas elementares”.
Nota
do Autor - nesse ponto cabe a questão: os Neoplatônicos
estavam corretos quando afirmaram essa similaridade com as partículas
elementares, milênios antes?
Essas hipóteses
fomentam o reavivamento dos debates filosóficos relativos à definição do Tempo.
Alguns advogam a tese de que o mesmo é apenas uma “notação cômoda”, não
aceitando que tenha qualquer realidade física, concreta. Os adeptos dessa
concepção, chamada de “Convencionalista
(por
afirmar que o Tempo é uma mera convenção, ou acordo, entre os homens)”
não encontraram, porém, muita simpatia entre os Físicos, tampouco entre os
Filósofos. Em contrapartida, a concepção chamada de “Realista” foi revalorizada, independente de qual realidade seja o
Tempo. Houve, também, o ressurgimento da “Teoria Causal do Tempo (onde ele aparece como Causa ou motivo para fatos e
acontecimentos)” combinada com a “Teoria Relacional” proposta séculos antes por
Leibniz e retomada por CARNAP, Reichenbach e Henryk Mehberg, cada qual com as suas particularidades, sem
descurar do que há em comum em todas, pois nelas se tenta derivar certas propriedades,
ou características, do Espaço de algumas características ou propriedades do
Tempo. Alguns outros estudiosos pensam o Tempo, ou o espaço-tempo como a matriz
de toda a realidade, ecoando o que Platão disse acerca das “Ideias” como
“modelos” para as coisas, das quais, ele seria, consequentemente, a Essência ou
Substância.
Mas além do aspecto
metafísico, ontológico, histórico, epistemológico, psicológico, físico etc.
também é necessário que se reflita sobre o Tempo em seu aspecto biológico.
Fala-se do “Tempo biológico” que é aquele próprio dos organismos, querendo-se
dizer o Tempo de desenvolvimento de um organismo dentro de uma espécie ou o
Tempo de “duração” normal do organismo desde seu nascimento até sua morte; ou,
então, sobre os “ritmos” nos processos orgânicos. Fala-se ainda dos “relógios
internos” que marcam os ritmos da vida e do desenvolvimento do organismo.
Outro aspecto referente
ao Tempo é aquele concernente à Lógica, a chamada “Lógica cronológica” ou “Lógica
temporal (no
sentido gramatical dos tempos verbais)”. Alguns estudiosos
afirmam que Aristóteles, os Megáricos e os Estoicos já haviam se ocupado das
modalidades temporais, especialmente no tocante às noções de “atual”,
“possível” e “necessário”. Hodiernamente o interesse pela Lógica temporal
reafirma-se com vigor, especialmente no tocante à possibilidade de se atribuir
índices temporais (antes, depois, agora etc.)
às expressões usadas em cálculo proposicional e quantificacional; e ao uso de
“Lógicas temporais” para a formalização de expressões com “Tempos Verbais”,
como, por exemplo: Fabio está escrevendo
– amanhã sairá Sol etc.
Epílogo
É preciso reconhecer
que não é fácil agrupar em sistemas organizados os diversos modos de se
conceber o “Tempo”. Talvez seja mesmo impossível alcançar uma concepção única
sobre o tema. Tampouco se consegue chegar a uma definição que seja
razoavelmente consensual sobre as “intuições sobre o Tempo”, sobre as
“experiências comuns e cotidianas sobre o Tempo”, sobre o que seja o “Tempo
biológico”; as características do “Tempo psicológico”, as especulações
metafísicas, os cálculos lógicos, as análises ontológicas e todas as outras
temáticas que permeiam o assunto.
Todavia, junto com essa
dificuldade de se conceituar o Tempo permanece viva a vontade de não se admitir
a ideia de que existem “vários Tempos” como se o “Tempo biológico” fosse um e o
“Tempo psicológico” fosse outro. É consenso, aliás, entre os Filósofos – em
sentido largo de “amigos do saber” – que cabe à Filosofia investigar as
relações que podem existir entre as diversas formas de como o Tempo é
percebido, pesquisando a existência de alguma noção que tenha maior abrangência
que as demais, mesmo sabendo-se que nenhuma dela é uma simples derivação da que
for considerada superior. É preciso que a Filosofia não se deixe abater pelos
paradoxos do Tempo, pois será necessário encontrar o esclarecimento mais abrangente
possível.
Os sábios anunciam o
surgimento de uma “nova Física” que haverá de incorporar as noções de
“Dinâmica” e de “Irreversibilidade”, de “giga Física” e de “micro Física”, de
“Física quântica”, “Relatividades” e outras Leis e de outras tantas
possibilidades. E esse novo horizonte já nos mostra que o Universo é muito mais
complexo do que podemos supor e que nele, ao contrário do que se pensava,
coexistem o “Caos” e a “Ordem”, a “Instabilidade” e a “Estabilidade” e outras
tantas contraposições.
E termos esse vislumbre
nos obriga a rever alguns conceitos básicos que eram tidos como absolutos,
sendo o Tempo um dos mais importantes. Afinal, ele é a nossa dimensão
fundamental, sendo, pois, a dimensão criadora de toda a realidade. Viajantes no
Tempo, necessitamos a cada momento melhor compreender essa estrada que
caminhamos.
No
sul de Minas Gerais, em Março de 2014.
Nota
– Idealismo – Sistema filosófico que reduz tudo à ideia. Aos
interessados remeto ao artigo de minha autoria no link www.fabiorenatovillela.blogspot.com
Nota
– Bergsoniana – Recomenda-se a leitura do Ensaio relativo ao
Filósofo Bérgson no link www.fabiorenatovillela.blogspot.com
BIBLIOGRAFIA
1 – Dicionário de
Filosofia J. Ferrater Mora – Ed. Loyola, 2001.
2 – Dicionário de
Filosofia, Nicola Abbagnano – Ed. Martins Fontes, 2000.
3 – Vocabulário técnico
e critico da Filosofia. André Lalande – Ed. Martins Fontes, 1999.
4 – Dicionário de Filosofia – Jacqueline Russ –
Ed. Scipione.
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