segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O Palácio da Gueixa


Não é longa a ponte que me leva a Xangrilá, mas é disforme como a de Monet sobre o lago de nenúfares.

Tão logo eu a cruze, sei que estarão me aguardando o tigre branco e a pantera negra que me protegem dos demônios e me livram da tristeza.

Será bom poder acariciar-lhes e sentir-me como Zaratustra que também voava com a sua águia e rastejava com a sua serpente.

E que pairava com ambos sobre a vida dos homens que nunca se arriscam em arames estendidos...

Conta-me Yume, que as bonecas do Oriente são feitas da porcelana mais fina que há. Tão finas que se parecem almas...

Eu não a vejo, mas sinto a suavidade de seu toque e pressinto a lisa e longa noite escura de seus cabelos em minha nuca.

Sem que eu olhe, sei de seu corpo delicado como a porcelana sem matéria.

E sei de seu sorriso encabulado quando digo que são lindos os brilhantes que lhe adornam os seios...

Estou sentado frente à imensa janela de vidro e engulo as generosas porções de verde que sobem da rua. Sei que são Paineiras, Amendoeiras e alguns incertos Flamboyants.

Mas sei que são irreais. Meros espectros aprisionados no umbral do tempo antigo.

Apenas as Cerejeiras existiram...

É cálida a brisa em que desliza o sutil perfume e a delicadeza herdada das gueixas eternas.

Eternas gueixas, em seda vestidas, a conduzirem as delicadas mãos que alisam a minha face e aliviam as dores que tantos e tantas tatuaram em minha carne e alma...

Agora, o verde apagou-se com a chegada de Vésper e a noite assumiu seu mistério.

Da rua, sobe apenas a luz hesitante de um poste solitário...

E é nessa penumbra que toco o veludo das vias que conduzem ao Palácio de Jade, enquanto abrigo a tua nudez com os últimos poemas que te fiz...

Meia-luz que nos desenha no calor de todos os desejos. Meia-luz com que cantamos a canção do amor...

A primeira florada das Cerejeiras faz o mundo ser lilás.

E antes que a outra neve recubra os montes, os riachos riscam novos arabescos enquanto baila o Arco-Íris que o teu riso liberta...

Eis-te florida, meu doce Jasmim do Oriente...


Para Yume. Carinho.



Produção e divulgação de Vera L. M. Teragosa.
Lettre la Art et la Culture

Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original (cite o nome do autor e o link para o site "www.fabiorenatovillela.com"). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar

Nenhum comentário:

Postar um comentário