Continuação...
Nesse ínterim, chamados por Bartolo, adentra a cena
um grupo de soldados para expulsar o oficial bêbado que insiste impertinentemente
em se alojar na residência; mas, disfarçadamente, Almaviva apresenta a sua
condição de nobre ao Comandante do pelotão que, por isso, relaxa a sua prisão.
Bartolo protesta, o Conde retruca e a soldadesca
fala descompassadamente. Nesse clima “buffo” encerra-se o primeiro ato.
§§§
Ambientado no mesmo cenário, um sala no casarão do
doutor Bartolo, o segundo ato inicia-se com ele aproveitando o silêncio e o vazio
da sala para colocar os seus pensamentos em ordem.
Após algumas conjecturas, compreende que a farsa do
oficial bêbado tinha alguma relação com Rosina, mas antes que possa tomar
alguma medida é surpreendido com batidas à porta.
Ao atendê-la, depara-se com um jovem que se apresenta
como Professor de Música substituto que veio fazer às vezes de Don Basílio,
acometido de grave enfermidade. Trata-se, claro, de nova investida de Almaviva
que usa esse novo disfarce em atenção à sugestão de Fígaro.
A princípio, Bartolo não lhe dá crédito, mas quando
o jovem diz que acabou de lecionar para o Conde e como confirmação mostra uma
carta que o mesmo teria recebido de uma moça (em verdade a carta é de Rosina),
o velho tutor logo vê uma “prova” da
volubilidade do “conde namorador” e
prevê que a “comprovação da falha de
caráter” de seu rival será utilíssima para o plano que ele e Don Basílio
arquitetam para desmoralizá-lo, forçando-o a mudar-se de cidade e a desistir do
casamento com Rosina.
Ávido em apossar-se daquela “prova”, o tutor nem
questiona o falso professor sobre o fato de ele ter furtado a missiva. Alegre,
recebe-o e tem início uma das cenas mais célebres do gênero operístico: a
famosa “lição de música”, onde Rosina canta a ária da lição, Almaviva não lhe
poupa elogios e galanteios, enquanto Bartolo canta e dança ridiculamente uma
música que foi popular na época de sua juventude.
A jovem não tem dificuldades em reconhecer no falso
mestre o seu amado Conde e ouve, envaidecida, os elogios à sua voz e à sua
beleza, enquanto o seu tutor continua com a sua hilária expansão de alegria.
Nesse momento chega à cena o barbeiro Fígaro para
cuidar das barbas de Bartolo, mas ele o dispensa, pois ainda está envolvido em
sua comemoração e disposto a atentar para tudo que acontecer no ensaio. Para
lhe pressionar, Fígaro diz que se não for naquela hora, ele não poderá cuidar
de sua aparência por longos dias em razão de seus muitos compromissos “só Deus sabe o quanto estou ocupado...”.
Sem alternativa e a contragosto, Bartolo cede e
entrega ao barbeiro o molho de chaves para que ele retire no armário os
apetrechos necessários. Justamente o que Fígaro queria, pois será a
oportunidade de surrupiar a chave do balcão para que posteriormente ele e o
Conde tenham acesso a Rosina.
De volta ao salão ele inicia o barbear, mas espalha
tanta espuma na face do tutor que lhe impede de ver que Almaviva e Rosina
ultimam, junto ao cravo, os planos para fugirem nesse mesmo dia.
Porém, a situação fica tensa quando inesperadamente Don
Basílio surge em cena, vendendo saúde.
Novamente o espírito “buffo” da peça se mostra
explícito quando todos o rodeiam e se mostram aterrorizados “por seu tétrico aspecto” e pela “horrível doença que o está consumindo”.
Pasmo, Basílio aceita a sugestão e começa a sentir-se mal e não se faz de
rogado ao aceitar o generoso suborno que o Conde lhe dá para que volte à sua
casa e se recolha ao leito até recobrar a “saúde”.
Fígaro volta às barbas de Bartolo que em meio ao
tumulto destampou as orelhas e com isso consegue ouvir as confidencias dos
amantes. Indignado, ele se levanta e protesta vigorosamente, denunciando a todos
– inclusive Fígaro – como pérfidos traidores. Já não lhe restam dúvidas da
participação do barbeiro nem da iminência da fuga de sua tutelada.
Todavia, as suas invectivas só causam risos e demonstrações
de desprezo nos outros, que saem juntos da sala.
No auge da irritação, ele chama pela ama Berta e lhe ordena extrema vigilância
para que ninguém entre na casa durante a sua ausência. Em seguida sai para
exigir que Don Basílio apresse os papeis e faça o seu casamento para aquela
noite, custe o que custar.
Sozinha, Berta se põe a cantar uma melodia que
ironiza a pressa em casar que assaltou o velho e moça, ainda que os motivos de
ambos sejam totalmente diferentes.
Quando retorna, Bartolo mostra a Rosina a carta
endereçada a Almaviva e ela, por desconhecer que Lindoro e o Conde são a mesma
pessoa, julga-se vitima de uma traição. Magoada, decide abandonar o amado e
desposar o velho tutor.
Nesse trecho a orquestra executa uma peça que sugere
com maestria uma violenta tempestade noturna, numa magnífica alusão aos
tumultos que invadem a alma da jovem.
Quando a música termina, dois vultos assomam ao
balcão: são Lindoro e Fígaro que vem executar o plano de fuga; porém, Rosina
recusa-se a segui-los, ainda ressentida com a suposta traição. Apenas quando
Almaviva esclarece a questão dos disfarces é que ela decide continuar a fuga.
Fígaro os apressa, mas um novo empecilho surge quando a escada que os levaria
do balcão ao solo é retirada por alguém, impedindo-lhes escapar.
Nesse momento chega o tabelião Don Basílio e como
eles estão cientes de sua venalidade logo o cercam propondo-lhe, mediante alto
suborno, que ele altere os nomes do noivo nos papeis de casamento. Novamente
ele não titubeia em praticar o ilícito e as alterações são feitas.
Nisso chega Bartolo e já encontra o matrimônio sacramentado
e oficializado. Tomado de ira, num primeiro momento quase sofre um colapso.
Porém, com o correr dos minutos e graças às ponderações que os outros lhe fazem
acerca da fortuna do Conde e do quanto isso pode lhe ser benéfico, ele se acalma
e se junta aos demais nas comemorações jubilosas que encerram o espetáculo.
Nota do Autor* - Cavatina - ária curta, sem repetição nem segunda
parte.
Nota
do Autor**
– “Largo Al Factótum” ou “Abra Caminho para o Factótum” é uma ária que se tornou
um ícone de popularidade no meio operístico. O termo “Factótum” vem do latim e
significa um “servente geral” ou, literalmente, um “faz tudo”.
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