terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Óperas, guia para iniciantes - O BARBEIRO DE SEVILHA - Resenhas, parte I


Barbeiro de Sevilha

AutoriaRossini (Giochino Antonio – 1792-1868 – Itália)
Libreto – Cesare Sterbini

Personagens:

Almaviva, o Conde – interpretado por um tenor.
Bartolo, Doutor – médico e tutor de Rosina. Interpretado por um Baixo.
Rosina – protagonista feminina. Interpretada por uma Soprano.
Fígaro, Barbeiro e “faz tudo” – interpretado por um Barítono.
Don Basílio – professor de música. Interpretado por um Baixo.
Fiorello – empregado do Conde Almaviva. Interpretado por um Baixo.
Berta – empregada de Don Bartolo. Interpretado por uma Soprano.
Ambrógio – servidor de Don Bartolo. Interpretado por um Baixo.

Época e local

Sevilha, Espanha, século XVIII.
Enredo

O primeiro ato dessa “Ópera Buffa” tem como cenário uma rua de Sevilha onde o jovem e galante Conde de Almaviva prepara uma serenata em homenagem a uma linda jovem por quem se apaixonou após tê-la avistado em algumas ocasiões.
Junto dele estão Fiorello, seu criado, e os músicos que se esmeram na execução das melodias, como, por exemplo, na ária para Tenores e guitarra, “Ecco Ridenti in Cielo”.
Além dessa outras músicas são tocadas e, então, o espectador assiste ao primeiro momento “buffo” da Ópera quando os músicos se recusam a parar a serenata, inoportunamente agradecidos pela excelente remuneração que o Conde lhes oferece. E, realmente, o fim da audição só acontece após certo tempo, quando fica claro para todos que a jovem não virá à janela ou ao balcão.
Enfim sozinho Almaviva se posta sob a marquise de sua amada até que um rumor de passos obriga-o a se esconder; porém, o temor é injustificado, pois quem se aproxima é Fígaro, com quem já havia travado relações noutra localidade.
Loquaz como de hábito, Fígaro entoa a popularíssima cavatina* “Largo Al Factótum** (Fígaro aqui... Fígaro ali... Fígaro lá...)”, com a qual conta que além de ser o barbeiro da cidade é, também, um verdadeiro “faz tudo” em Sevilha, graças às suas inúmeras habilidades e ao seu conhecimento quase total da cidade e de seus habitantes.
Após essa entusiasmada apresentação, ele e o Conde começam a traçar um plano para que Almaviva consiga adentrar o casarão e cortejar a doce Rosina. Fígaro lhe conta que a moça é discípula e não filha do velho doutor Bartolo e também fala sobre as qualidades, os sonhos e os desejos da mesma. Em resposta, Almaviva diz-lhe que adotará o pseudônimo de “Lindoro” e que ocultará, num primeiro momento, a sua posição de nobreza e a sua fortuna, pois almeja ser amado apenas por si mesmo e não por suas posses.
Enquanto ambos arquitetam o plano, Rosina e o doutor Bartolo surgem no balcão. A jovem traz um papel semioculto na mão que logo desperta o ciúme e a ira do velho, mas ela, ardilosamente, diz-lhe tratar-se apenas do enredo de uma Ópera muito popular chamada de “Precaução inútil (sic)”.
Sem atentar para a ironia da moça, ele ordena-lhe que se recolha e avisa aos criados para que proíbam a entrada de qualquer pessoa na casa, com exceção de Don Basílio, o professor de música da jovem. Em seguida, Bartolo sai apressado rumo ao Tabelião para pedir urgência nos trâmites dos papeis de seu casamento com a tutelada.
Antes de lhe obedecer, Rosina deixou cair o papel que segurava, no qual convida o romântico seresteiro a visitar-lhe, avisando-o da saída de seu tutor.
Através da ária “Se Il Mio Nome”, Almaviva aceita o convite e já usando o falso nome de Lindoro, apresenta-se como um homem pobre, incapaz de lhe proporcionar uma vida de luxo e riqueza. A jovem começa a responder-lhe falando da iminência de seu casamento, mas é bruscamente interrompida.
Aflito, ele pede auxílio a Fígaro, pois entende a urgência de se impedir aquele nefasto arranjo matrimonial. O “Factótum” lembra-se, então, da chegada de um batalhão à cidade e sugere que Almaviva se faça passar por um oficial e que, nessa posição, busque alojamento na casa, conforme a praxe da época.
O dueto relativo a esse estratagema encerra a primeira cena.
A segunda cena desse primeiro ato é ambientada em uma das salas do casarão onde Rosina entoa a ária “Una Voce Poco Fá”, que conta uma história símile a que está vivendo: uma voz que há pouco escutou, já toca o seu coração. Em seguida a música passa a fazer menção ao seu tutor e às suas intenções e ela se despe de cerimônias e se autodefine como alguém gentil, doce e pacífica, mas, também, aguerrida em defesa de seus interesses e de suas vontades. Uma víbora impiedosa se lhe forem contrariados os sonhos e desejos.
Finda a ária, ela se retira do recinto que, então, passa a ser ocupado pelo velho Bartolo e por Don Basílio, que além de professor de música, também é o Agente Matrimonial que está cuidando do casamento. O ancião explica-lhe que tem muita pressa em realizar o casamento, pois teme que sua tutelada se apaixone por um de seus vários pretendentes.
E o casamenteiro lembra, a propósito, que um desses admiradores é o próprio Conde de Almaviva, a quem urge afastar, já que ele é um concorrente de muito peso.
Concorde com o risco, Bartolo pede-lhe auxílio para afastar esse risco e o professor entoa a célebre ária “La Calunnia” que sugere a maneira mais eficaz de afastar uma pessoa: a calúnia, a intriga, a maledicência. Será preciso, segundo seus pérfidos argumentos, lançar calúnias sobre o nobre pretendente até que ele se sinta acuado e não lhe reste alternativa a não ser mudar-se de localidade, vez que a sua reputação foi jogada na lama. Afinal, ninguém resiste a uma intriga, já que a mesma é como uma brisa suave que se insinua sorrateira entre o populacho e vai se avolumando com os acréscimos que as pessoas lhe colocam, até que, no fim, torna-se um tufão que a tudo arrasa. Ao pobre caluniado, resta apenas o desprezo e o ódio de todos e, em consequência, a vontade de morrer.
Essa ária, além da beleza superior, também se notabilizou por ser extremamente descritiva do comportamento humano. Para muitos, é uma variante do “Realismo” que, então, vicejava na literatura da época.
Ao fim da mesma, os dois idosos se retiram e a cena fica vazia por alguns instantes. Na sequência, Rosina recebe a visita de Fígaro que se diz primo de Lindoro e lhe pede que escreva um bilhete confirmando o seu interesse no rapaz. Ela finge hesitar, mas, na verdade, ela já havia feito tal bilhete e o mesmo é de tal modo explicito que Fígaro deixa de ter qualquer dúvida em relação aos seus sentimentos. Ela está pronta para o amor e não há nada mais que ele possa ensinar-lhe.
Nesse entretempo, Bartolo regressa a casa e ao perceber a falta de uma folha de papel adivinha que Rosina usou-a e se põe a pressioná-la para que ela confesse a quem escreveu. Ela resiste às suas investidas e ele se irrita com as suas negaças, censurando-a asperamente, através de uma ária extremamente vigorosa.
Ela não responde aos seus insultos e abandona a cena que, em seguida, é ocupada por Almaviva, disfarçado em um oficial bêbado que insiste em se hospedar ali, apesar da tenaz resistência que lhe opõe o velho Bartolo. Uma pantomima que o Conde sustenta por algum tempo, enquanto busca meios para entregar um novo bilhete para sua amada...

Continua...

Nota do Autor* - Cavatina - ária curta, sem repetição nem segunda parte.

Nota do Autor** – “Largo Al Factótum” ou “Abra Caminho para o Factótum” é uma ária que se tornou um ícone de popularidade no meio operístico. O termo “Factótum” vem do latim e significa um “servente geral” ou, literalmente, um “faz tudo”.


Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Verão de 2015.

Nenhum comentário:

Postar um comentário