sexta-feira, 14 de novembro de 2014

Rousseau e o Romantismo - Parte XVII - A transição para a Liberdade Civil


Rousseau e o Romantismo - Parte XVII -
A transição para a Liberdade Civil

Como já se disse, no “Estado de Natureza” a liberdade era vinculada diretamente à força física do individuo e ao seu poderio beligerante.

E não estaremos errados em afirmar que ainda hoje, em pleno século XXI, o mesmo acontece, mudando apenas o tipo de força que se utiliza, haja vista que a força física foi substituída pelo poder econômico e secundariamente pelo poder político.

Com efeito, quanto mais abastado for o sujeito, mais liberdade ele desfruta, vez que o dinheiro lhe proporciona meios de locomoção e de hospedagem, a desobrigação de permanecer em empregos fixos, a oportunidade de se afastar das pessoas e situações que não lhe agradem etc.

E, além dessas satisfações físicas, a fortuna lhe dá meios para ampliar seus horizontes culturais, intelectuais e emocionais, permitindo-lhe voos mais livres pelos domínios da mente.

Em ambos os casos, o seu leque de opções é diretamente proporcional ao poderio que possui.

É claro que a riqueza não significa automaticamente mais liberdade; tampouco a pobreza, menos poder de optar, mas estou certo que o amável leitor (a) não discorda das facilidades acima colocadas.

Contudo, apesar da evidência desses fatos, deve-se reconhecer que a antiga “Lei Natural” já não é tão plena quanto foi na antiguidade; pois, ainda que precário, o funcionamento das Instituições, das Leis, das Normas etc. a condicionam a respeitar alguns limites.

E justamente aqui, nesse “Efeito”, encontramos a “Causa” de a transição ter acontecido.
***
Se, como argumentava Rousseau, o homem era feliz no “Estado de Natureza” por que o abandonou?

Para o filósofo e para outros estudiosos, o principal motivo foi o aumento nos cataclismos e a proliferação familiar que o levaram a conviver com os seus semelhantes, já que o incremento de desastres naturais e o aumento em sua descendência teriam reduzido o seu espaço de caça, as suas fontes de água e os seus outros recursos naturais.

Outros Pensadores acreditam que o início do processo de socialização aconteceu em decorrência da natural evolução mental do homem que, a partir de certo momento, ampliou a sua capacidade imaginativa e com isso a sua gama de desejos, bem como a sua necessidade de interação.

Para um terceiro grupo de eruditos, o motivo real foi a soma dos dois anteriores, considerando-se que o agravamentos das dificuldades ecológicas tenha forçado a evolução da mente humana, originando o refinamento da inteligência do homem que, então, passou a ter desejos – “necessidades” – que antes desconhecia.

Um trio de possibilidades plausíveis, certamente; porém, não há um consenso sobre o principal motivo da evolução.

Resta-nos, pois, basearmo-nos nas mesmas para avançarmos no estudo dos estágios evolutivos seguintes, especialmente no quesito da “Liberdade Civil” que passou a vigorar a partir do ajuntamento.

A “Liberdade Civil” é filha direta do pacto que os homens fizeram para conviverem, mas para que esse acordo fosse efetivado houve, necessariamente, um desejo de todos – uma Vontade Geral – para que acontecesse.

Assim, dado o seu caráter de motor essencial, antes da “nova liberdade”, falaremos no próximo capítulo sobre a mesma.



Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, Primavera de 2014.

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