sexta-feira, 30 de setembro de 2016

A Canção de Alepo


Caminham os homens mortos
sobre os homens matados em Alepo.
E, entre os escombros, a todos vigia
o triste espectro da metralha
e de sua insana vontade canalha.

Choram, as mães de Alepo
pelos filhos partidos,
pelos destinos repartidos
e pelos futuros perdidos.
Choram, os pais de Alepo
pelas filhas não sabidas,
pelas esperanças prostituídas
e pelas vidas não acontecidas.
Choram, os filhos e as filhas de Alepo
pelo desaparecer do que se chamava de mãe,
chamava-se de pai e se chamava de novo dia.

E choramos nós,
por vermos que todo o horror de outrora,
chama-se, agora.


Solidariedade ao sofrido povo sírio e, especialmente, aos flagelados pela guerra na cidade de Alepo.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

A Mulher e a Foto


Talvez, exista uma recordação em cada foto.
Talvez, só a vontade de não se esquecer.

E os brilhos, os trajes e as outras faces,
extáticos no tempo e no papel,
ali ficam, à disposição das saudades.

Em que tempo ficou
a mulher de tantos risos
e que, agora, ainda se busca
nesse incerto espelho de Narciso?

domingo, 18 de setembro de 2016

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Si hay un gobierno, jo soy contra

- O senhor concorda com o "Fora Temer"?
- Sim. Claro que sim.
- Por quê?
- Um indivíduo que se aliou ao PT - Partido dos Trabalhadores (cujos próceres e tesoureiros foram condenados e presos por corrupção) - nas últimas eleições, não merece o meu respeito, tampouco a minha confiança.

O Anarquismo

Por economia de espaço, tempo e paciência dos amáveis leitores (as), o autor não historiará a gênese desse Movimento Político, situando seu inicio, para efeito desse artigo, em Pierre Josheph Proudhon (França, final do século XIX e inicio do século XX), que lhe deu a estrutura dogmática que vigora ainda hoje.

Isto colocado, teceremos breves considerações sobre o mesmo.

O ideário anarquista

Para a maioria dos estudiosos, o Anarquismo escora-se em três pilares básicos. A saber:

1) Censura ou critica: à exploração do trabalho pelo Capital; à dominação cultural e ideológica exercida pela religião, escola, imprensa, sociedade familiar e civil; à dominação burocrática, legisladora e militar (ou paramilitar) exercida pelo Estado.

2) Apologia à autogestão, que redundaria em uma Sociedade solidária e justa.

3) Concretização e aprimoramento dos meios, métodos e táticas para a realização dos dois itens anteriores.

Em sua origem, o Anarquismo assimilou alguns dogmas do Socialismo. Através do pensamento de Proudhon, seu corpo ideológico constituiu-se como se fosse apenas mais uma variante dentro do espectro comunista e, dessa sorte, não faltaram censuras, por exemplo, "a exploração capitalista sobre os assalariados", a "alienação induzida pela religião", a "coação intelectual, física e cultural promovida pelas elites" etc.

Contudo, à medida que alguns Regimes Comunistas tomaram o Poder e repetiram os usos e os costumes dos Regimes antecessores (com as óbvias diferenças pontuais de cada qual), o Movimento Anarquista não titubeou em mirar as suas baterias para essa outra face da mesma moeda e, com isso, ocupou a posição de "estilingue" para as vidraças da Esquerda e da Direita.
Porém, o fato é que as propostas defendidas pelos Anarquistas reproduzem as intenções apregoadas pelas religiões e pelos Regimes direitistas ou esquerdistas; ou seja, ao cabo e em essência (atenção, eu repito: não estão consideradas as idiossincrasias de cada qual): uma Sociedade igualitária, solidária, justa e feliz.

Ademais, não deixa de ser trágico (embora pareça cômico), o fato de o Anarquismo ser visceralmente estruturado na mais patética* e cândida ingenuidade, cuja expressão mais visível encontra-se em seus jovens (tanto em termos cronológicos quanto mentais e culturais) adeptos e/ou simpatizantes.

Ingenuidade, talvez inocência, em acreditar em valores como "solidariedade", "sociedade justa", "bem comum" etc.; bem como, na existência de potência, ou de potencial, para modificar comportamentos milenares e, talvez, indissociáveis da psique humana.

Ingenuidade, que se junta à efervescência hormonal dos jovens (tanto os cronológicos quanto os culturais) e se transforma em tentativas violentas (do tipo"blacks blocks") de derrubada do "status quo", com a indefectível contrapartida das forças repressoras, sempre temerosas (sem duplo sentido, ou não?) de que em algum momento, tal inocência amadureça e ganhe objetividade, tomando-lhe as tetas do Poder e as benesses de seus privilégios. Afinal, como disse Bertold Brecheth: a cadela do Fascismo está sempre no cio.

E, por fim, a ingenuidade de em plena manhã de Domingo, escrever um Artigo e acreditar que talvez seja possível uma verdadeira reforma política em seus verdadeiros agentes: os eleitores.


Patética* - em sentido literal. Não confundir com a estúpida tradução, que faz desse termo um sinônimo para "ridículo".


quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Páginas



Então, eu percebi
que quanto mais abria a janela,
mais estrelas eu via.
E percebi, que as páginas do livro
eram as janelas.


Pour mom petit Papillon

sábado, 3 de setembro de 2016

De Novo


Há tempo não a ouvia,
mas, eis que de novo, a lúgubre cotovia
grita a dor dos homens traídos
e a dos sonhos não amanhecidos.
De novo, o histérico riso das dementes
contrapõe-se ao silêncio das ausentes.
De novo, a solidão dos corpos apartados
e a angústia dos voos hesitantes.
De novo, o exílio do mar distante
e a impressão de que o amor eterno
durou apenas um instante.