sexta-feira, 30 de abril de 2010

Balcão

O mormaço abraça essa espera.
O homem no balcão grita nomes,
mas se vê que anseia silêncio.
Que todas as doenças tivesse fim,
que todos os doentes tivessem fim.

Crédulas mulheres
de cabelos não cortados
e de resignação espessa
citam a quem veneram.
Tornam-o responsável
por suas últimas esperanças.

Alguém quer ser íntimo
da recepcionista mal humorada.
Alguém quer passar à frente,
mas a recepcionista ignora ambos
e, no intimo, sente-se vingada
por suas cotidianas derrotas.

Alguém, no andar de baixo,
geme um grito alto.
Verbaliza a angústia comum.
Um homem novo chega ao balcão
e exibe suas roupas novas
(por que as quis?)

Tantos olhares para tantos vazios.
Não há espaço a preencher,
tudo foi tomado pelo fastio.
Vidas e estilhaços,
excedem-se o cansaços

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A 3ª Conjugação

Agora devo ir
para o Tempo me engolir.
É hora de seguir
o cortejo de Ofir.

Tentei me abolir
do eterno Devir,
pois será vão o novo existir
e inútil todo porvir.

Quero a liberdade de nada me possuir,
e um sonho para me iludir.
E quem sabe, a quimera de rir?

De tudo rir,
por nada ouvir.
Nem o mistério de ainda sentir.

domingo, 25 de abril de 2010

12 de Dezembro de 1968

De novo a insônia
e o terror da Macedônia.
De novo o banzo de escravo
e a solidão de sozinho eslavo.

Falta-me o Sol latino
de quando se é menino.
Faltam-me a utopia quimérica,
a tragédia homérica
e o Luar da América.

Aos treze fui banido,
preso e torturado,
pois não fui amestrado
na arte de ficar calado.

E foi no dia do aniversário
que o carrasco sanguinário
calou meu verso contrário.
 
                                Para Beth. Beijo Guerreira.

sábado, 24 de abril de 2010

A 2ª Conjugação

Queria poder
um poema perder,
uma angústia maldizer,
uma chuva chover,
um olhar sem te ver,
um falar sem dizer,
um amor sem temer,
uma lágrima sem sofrer,
um chorar sem querer,
uma fome sem comer,
uma sede sem beber,
mas de relance saber
que breve não mais irá doer.

Queria poder,
do Câncer esquecer
e viver por viver.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Armagedon

Velhos desastres apocalipticos,
mortos e paralíticos
são os novos políticos.
É chegado o Armagedon.

Assim falou Zaratustra:
feras, ao ataque!
Destrocem o Homem-Deus de araque.

Bate à porta o Bíblico fim.
Profecias de Nostradamus,
cá estamos.
Dos Maias, dos Astecas,
dos pais de santos e
dos Toltecas
reverbera o vaticinio
que precede o morticinio.

Fim de "La Nave", Fellini,
da "Serenata", Paganini.
São chegados os passamentos.
Reinam as fúrias dos elementos.
Raios partem de Zeus
e o Hades transborda de cananeus.

Que outra espécie
estudará os fósseis
que seremos?
Acharão nossa obras,
nossas indecentes sobras?
Quiçá nao se deem ao trabalho,
pois nada vale o coringa desse baralho.
É provavel que nosso Futuro,
renegue o seu Passado obscuro.

Lanhos esperamos o matadouro.
Certos do inevitável desdouro
e vexados pelo pouco que se fez.
Quem sabe, na próxima vez ...
Agora, Ines é morta
e a Natura nos deporta.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Imortais

Agora, a mulher de rosto distorcido
é um retrato do que talvez tenha sido.
Somos todos, quadros envelhecidos
dos velhos tempos idos.

E no entanto, fazem poesia.
Talvez a possível alforria,
do horrendo cativeiro
de ser do corpo prisioneiro.

Nesse quase museu de cera
tomo assento na última fileira.
Vejo-lhes e os escuto.
Sou eu, em estado bruto.

Temos mais Passado que Futuro.
Temente, procuro
galgar o muro;
e afastar o dia escuro

sábado, 17 de abril de 2010

72 Horas

Sinto a ressaca do amor excessivo
e do exagero de estar vivo
nesse tempo de gesto passivo
e falar inexpressivo.

Preço de viver assim:
o estranho lucro
de burro xucro,
de doido maluco
que sonha o harém sem eunuco.

Da sacada assisto
o Homem restrito
que enfeitiçado pelo rito,
ou por K. e pelo grito,
chora e berra aflito
e se queda contrito.
Qual será sua mandinga?
Tão moço ainda ...

Logo tomarei a Morfina sagrada
e a ausência indesejada,
por obra da bela amada
que mistura sopro e dentada.

Por onde A. andará?
Em qual tempo me esperará?
A chuva da madrugada
lavou a alma e o Nada,
nessa incerteza de calçada.

Anoitece a solidão que me traga
e essa angústia que nada afaga
ajeita-se na cama e cobra sua paga.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Poesia Morena

Tua lembrança preenche meus vazios.
Sinto-te, embora não estejas;
e te devoro
sem que me vejas.

Procura, fome, loucura,
esse amor sem moldura,
esse gostar sem usura
e esse desejo sem censura.

Como tu veio,
essa falta de receio,
essa sobra de recheio
são mistérios da Terra do Meio.

Ouço tua voz cantada
e te sei amada.
Por que tu me és tanto?
Nao sei,
mas te amo
como raro amei.

Essa maciez da tua pele
é perpétuo convite
ao qual não se resiste.

Por ti, poesia morena,
farei nova Carta Chilena,
como as de Marilia e Dirceu,
versos brancos sem Liceu.

*E tão de repente ...
nada mais que de repente ...

*inspirado na poética de Vinicius de Moraes.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Outra vez

E pensar que sempre, nunca foi tanto ...

Porque já fui chamado de anjo
recolho as asas
para rever a vida,
que cheia como enchente
o espaço ultrapassa
em golpe de Pocker e trapaça.

Desejo quem desejo
e te faço amor
sem resto de pudor.
Bom declamar teu corpo
e seguir tuas curvas
em beijo inteiro.
E sentir que o teorema se resolve
enquanto teu orgasmo me absolve.

Ver que refletes estrelas
e tanto e tal, só por tê-las.
Pressentir teu corpo moreno
na lascivia do lençol branco,
abandono e entrega
como folha que a chuva rega.

Saber, moça bonita,
que és vida reescrita,
nesse novo livro
que insiste em ser vivo.

Agora já não são banais
os dias sempre iguais
às noites ancestrais.
Tu é mais.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Ana Lira

Danço sim, formosa dama,
pois eis que neste baile
o que se pensou drama,
fez-se detalhe.

Coisa miúda
ante esse canto de Cotovia
que de letra faz sinfonia
e do homem que homenageia,
vivente que já nada receia.

Danço sim, moça poesia,
mas que neste baile
nada mais se fale,
pois são precisos
os silêncios de narcisos
para que tua sensibilidade
preencha de luz e claridade
esse salão em que se baila
ao som dessa Lira de Ana,
dessa magia gitana.

Outra estrela Ana, refez a vida,
mais bela, por lhe ter havida.


Para Ana Lira, com carinho.

domingo, 11 de abril de 2010

Dança comigo - Por Ana Lira.

Dedicado : Dança comigo, amigo poeta( para Fabio Vilela)

Tags: coragem Fábio Villela musicalidade boa poesia

Dança comigo um tango
se não quiseres eu também sambo
pois tenho a mais plena certeza
que de alma te sobra leveza.
Dança comigo esta valsa
mesmo que alegria te pareça falsa
Proponho-te então um escambo
troca este teu corpo mulambo
por um gole de calma
que esquenta tua triste alma
Só não aceito o tempero
com gosto de desespero
destas tuas última letras
vestidas de roupas pretas
A solidão não cai-te bem,
não pensas que não tens ninguém,.
nem nada, nem amante, nem amada
tens em mim uma poetisa apaixonada
pelos teus versos musicados
pelos teus textos iluminados
que trazem luz ao mundo
que simplificam o profundo.

Portanto ainda és vivente
um poeta inteligente
um homem lutador
que esquenta esta fria dor
E inspira uma poetisa
a pensar em outro tipo de amor
o amor transcendente e puro
capaz de iluminar o escuro
da alma em tristeza.

Dança comigo este tango?
Mesmo com corpo mulambo,
dançarás na mais pura leveza
disso eu tenho certeza
pois tu alma é da mais pura beleza
tua poesia singela é luzente pureza.
E teu corpo apenas um detalhe
se bobear capaz que calhe
em uma pista de dança
no baile da esperança.

Este poema é um comentário ao poema "Dor Fria" do grande homem e poeta Fábio Villela.



GRANDE ABRAÇO,
Adoro ler-te colega.
Beijo enorme.
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ANA LYRA

Ana querida, em 53 anos de andança
 presente igual pouco ganhei.
Foi preciso conhecer-te, poesia morena,
 para sentir que valeu cada segundo
desse meio século que atravessei.
Por ti, agora sei.

Com imenso carinho, muito obrigado.
Teu,

Fabio

sábado, 10 de abril de 2010

Balalaika Amarela

O poema de Maiakóvsky,
no verso do retrato
é como um contrato
em que partes distintas
resgatam utopias extintas.

Cantou o Poeta
o sonho de todo esteta,
que escreve e vislumbra
a liberdade que deslumbra
no fim da cinza penumbra.

Amarela a blusa que entardece,
rebrota o sonho que enternece
e em todos os caminhos
só se vê os ex sozinhos.

É chegado o novo tempo
e que caia o sangue
da tirana exangue.

Que todos se renovem,
que do manjar, todos provem
junto com a vodka aguardente
que espanta o tédio que mata gente.

Em celebração aos noventa anos do falecimento do Poeta Maiakóvsky.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Angústia

Prevejo a estrada que andarei.
Do Futuro nada sei
e do Passado nada levarei.
Sou só o Presente,
acontecido de repente.

Revejo o caminho por onde andei,
a algum lugar retornarei,
se do Mundo, não sei
se do Sub-Mundo, não direi.

Estive preso,
estive aceso,
estive acamado,
estive abandonado
e estive possuído
por algum demônio enfurecido.

Caminho e encruzilhada,
a ida para o Nada.
Sem recuo ou volta
para a calma da revolta.

É a vida que passa
e a fome de traça
que corrói sonho e ilusão
nesse conjunto de não.

Agora ouço a terra que me encobre
e a marcha em "passo-dóble".
Logo o escuro será denso
em outro terror intenso.

Dor fria

Nao sei se deveria,
nem sei se poderia,
romper essa funebre calmaria
e gritar à fúria dos Elementos
as dores e os tormentos
de tua toda ausência
em minha semi existência.

Não sei se poderei chamar-te namorada.
Pois agora tudo é nada
e nesse tempo de incerteza,
em que a dúvida é a certeza,
ignoro até o poema que te farei
e como te direi,
do tanto de carinho
que escrevo nesse pós pergaminho.

E tanto mais não sei, moça do Rio ...
mas sei que faz frio
e já sinto a dor anunciada
como amante indesejada.

Até quando
levarei esse corpo mulambo?
Onde estará
a panacéia que me curará?
Por onde andará
meu santo orixá?
Não sei!
Que um anjo me guarde
e que um alivio me aguarde.