terça-feira, 28 de julho de 2015

Serenidades


Livrai-me, Minerva, dos falsos sábios
que incensam os pseudos modernismos,
mas nada entendem das obscuridades
do sentir.

Livrai-me, deusa, pois eis que só quero
o Sol de amanhã e um perene canteiro de avencas.
Deixe-me fartar da paixão sem temor
e do incenso que há nos lábios da Musa.

Que haja, deusa, apenas o rumor dos risos
e a cumplicidade dos silêncios.
Apenas esse céu de inverno,
por onde vagam insones
as estrelas e as saudades.

E depois, Mulher, que só exista
o teu corpo em minhas mãos.
E em tua pele
a certeza
de uma nova história.




Produção e divulgação de Vera Lucia M.T. Terragosa.

Lettre la Art et la Culture

Enviado por Lettre la Art et la Culture em 28/07/2015

sábado, 25 de julho de 2015

Traços



O grito que não se atreve,
antecipa o teu choro contido.

Dores silenciosas que te
esboçam,
qual traço sem talento.

De quanta dor
será feito o teu desejo
de que a vida
não seja apenas
a falsa compaixão alheia?


Para Érika. Saudades.



Lettre la Art et la Culture
Enviado por Lettre la Art et la Culture em 25/07/2015

sexta-feira, 24 de julho de 2015

A brisa de Botafogo



Tão bom te sentir de novo
brisa de Botafogo.
E saber que o teu sopro
leva as palavras aladas
em que voam os poemas.



Lettre la Art et la Culture
Enviado por Lettre la Art et la Culture em 24/07/2015

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Minguante


E ainda que minguante,
sabe-se que a Lua
é um poema inteiro.



Lettre la Art et la Culture
Enviado por Lettre la Art et la Culture em 20/07/2015

sexta-feira, 17 de julho de 2015

"Sobrevivendo com o Câncer Linfático" pela Editora Porto, em Porto, Portugal.

Aos amigos e amigas leitores, tenho a satisfação de comunicar que meu livro"Sobrevivendo com o Câncer Linfático", também foi editado eletronicamente pela Editora Porto - selo Wook - de Portugal e está à venda no site da Editora.

Os Direitos Autorais da obra foram cedidos à ABRALE - Associação Brasileira de Linfomas e Leucemia - e por isso peço a participação de todos que puderem contribuir, pois a vossa ajuda é de fundamental importância para que essa prestigiada "Organização Não Governamental" continue a auxiliar os milhares de pacientes que, como eu, sempre recebem a valiosa e necessária ajuda para que continuemos a lutar contra esse difícil inimigo.

A todos, muito obrigado.



Lettre la Art et la Culture
Enviado por Lettre la Art et la Culture em 17/07/2015

quinta-feira, 16 de julho de 2015

PAGLIACCI, Leoncavallo - Óperas, guia para iniciantes.

AutoriaLeoncavallo (Ruggero – 1857-1919 – Itália).
Libreto – idem

Personagens:

Cânio – o proprietário e Palhaço principal de um pequeno circo. Interpretado por um Tenor.

Nedda – a esposa de Cânio.  Interpretada por um Soprano.

Silvio aldeão que mantém um romance clandestino com Nedda. Interpretado por um Barítono.

Tonio – outro palhaço do circo. Interpretado por Barítono.

Beppe – artista do circo. Interpretado por um Tenor.

Época e local

Montalto, aldeia na Calábria, meados de 1870.

Prefácio

É possível ser moderno utilizando-se uma técnica de milênios atrás?
No caso dessa Ópera, sim! Afinal, o que é clássico transcende o tempo.
E foi com essa genial intuição que Ruggero Leoncavallo inseriu em sua obra um recurso utilizado pelos antigos dramaturgos gregos: o prólogo.
Antes que as cortinas sejam descerradas, um integrante do circo apresenta-se à plateia e se autonomeando de “Prólogo” diz textualmente: “venho trazer uma explicação e uma advertência... os risos e as lágrimas que vereis são verdadeiros, embora pareçam falsos... esqueçam as vestes da história e tenham presente na alma, o sentimento que os invade... o conceito vos disse, e agora ouvi como se desenvolve”.
Como se disse, um recurso milenar que o autor do libreto e das músicas usou para quebrar a monotonia do padrão vigente e, por isso, moderno. E, clássico, por atuar como provocador e fomentador dos mais profundos sentimentos humanos.
A grandiosidade da obra, aí se inicia.

Enredo

Quando as cortinas são, enfim, abertas, não é raro que a plateia sinta-se transportada duplamente: tanto para o local que o cenário reproduz, quanto pra a sua própria infância, já que o Circo, em geral, é a primeira impressão artística que se fixa na mente humana, mesmo que atualmente haja uma enxurrada de diversões virtuais e eletrônicas, pois estas ainda recorrem costumeiramente à magia dos picadeiros, com seus herois acrobatas, voadores, cômicos etc. para urdirem os seus temas e enredos.
Assim, o espetáculo já se inicia com sua característica principal: a emotividade em máxima escala. E essa mesma carga emocional realça e acentua os outros encantos do espetáculo, cujas apresentações são constantes em todos os países, assim como os aplausos que a saúdam. É, realmente, um espetáculo patético (ie. que toca, enternece o coração) e que faz jus ao apreço que lhe é dispensado.
E o primeiro ato se inicia com a chegada do circo à aldeia calabresa, que logo é inundada por sua propaganda. Anuncia-se com música e vestes coloridas a grande estreia para aquela mesma noite.
Pouco depois, avista-se o carro em que vive a estrela da companhia, a bela Nedda, esposa de Cânio. Em seguida, ela aparece junto à escada e o palhaço Tonio apressa-se em lhe oferecer a mão para ajudá-la a descer.
Um gesto que poderia ser classificado como elegante e gentil, mas que Cânio julga insolente e mal intencionado, recriminando asperamente a Tonio, pelo “atrevimento”.
Os populares que acompanham a montagem do espetáculo riem da cena, imaginando que é uma galhofa entre eles; porém, entre dentes, o palhaço ressentido jura vingar-se das humilhações que o diretor sempre lhe impõe.
Cânio, por seu lado, dirige-se aos populares que riram d cena e os adverte da enorme distância que existe entre a ficção e a realidade.
Depois, estando sozinha, Nedda entoa uma ária belíssima na qual exprime o temor que sente pela personalidade violenta do marido. Contudo, a sua paúra é logo substituída pela contemplação da esplêndida e calma tarde ensolarada, que lhe traz uma sensação de calma e de felicidade inabituais.
Tonio, ainda ressentido com Cânio, ouve-a extasiado e cautelosamente deixa o esconderijo em que se ocultara e declara o grande amor que lhe tem.
Ela, no entanto, limita-se a zombar do sentimento do infeliz e lhe diz para guardar seus arroubos românticos para a representação teatral de logo mais.
Mais que as ofensas de Cânio, o desprezo de Nedda o fere e ele jura vingar-se também dela, afastando-se em seguida.
Sozinha novamente, Nedda recebe, alegremente assustada, a visita do aldeão Silvio e finge censurar-lhe a imprudência de procurá-la ali. Porém, o amor que ela lhe dedica logo afasta qualquer preocupação e toda cautela e, entre beijos e carinhos ardentes, ambos ultimam os planos de fugirem, logo após o espetáculo dessa noite.
Todavia, o descuidado comportamento dos amantes tem um preço, pois Tonio os vigia e escuta os planos que urdiram. Assim, desejoso de vingar-se do desprezo com que Nedda o tratou, não hesita em chamar Cânio, para ele também presencie a traição que está sofrendo.
Afobados, ambos se apressam, mas ao chegarem Silvio já se fora e não é possível ao marido comprovar a infidelidade da esposa.
Para o palhaço rejeitado resta a frustração por não ter podido retaliar e para o marido enganado sobra a dor e a amargura de se saber rejeitado. E a elas, sobrevém uma imensa raiva e um insano desejo de se vingar.
Contudo, já se aproxima a hora do espetáculo e ele tem que sufocar a dor e o ódio que lhe dilaceram a alma e fingir uma serena felicidade. É, então, que entoa a celebérrima ária “Vesti La Giubba” com a qual se encerra o primeiro ato.

§§§

O segundo ato é encenado na réplica do circo, momentos antes de a função ter início.
Como de hábito, Nedda cuida da bilheteria e entre um e outro pagante, confirma com Silvio a fuga de ambos, logo após o espetáculo.
Instantes depois tem início a pantomima onde Nedda representa uma Colombina; Cânio, o Palhaço, seu esposo; Beppe, um Arlequim e Tonio, um pajem chamado Taddeo.
No decorrer da representação, Taddeo oferece uma rosa à Colombina e declara o amor que lhe tem, mas ela o repele sarcasticamente, dizendo que o seu coração já pertence ao galante Arlequim, que está ao seu lado. Nisso, o Palhaço, marido da Colombina, entra em cena e ao perceber a fuga do Arlequim exige que a esposa revele a sua identidade e qual a relação entre eles. Ela, porém, recusa-se obstinadamente e a tensão domina o ambiente.
Uma trágica história ficcional que repete pari passu os tristes momentos que a troupe vem vivendo na vida real. Uma mescla de realidade e ficção que abala Cânio de tal modo que ele acaba confundindo as situações e ao invés de se ater ao texto original, deixa as suas emoções fluírem com tal intensidade que o público o aplaude com singular intensidade, crente de estar presenciando a uma magnífica performance teatral.
E nesse crescendo de exaltação, ciúme, mágoa e fúria, Cânio não se contém e atinge Nedda com um golpe brutal, prostrando-a mortalmente.
Então, os aplausos do público se transformam em gritos de pavor e do meio do tumulto eleva-se a voz de Silvio que brada contra o assassino enquanto corre para o picadeiro na tentativa de socorrer a sua amada. Mas o seu esforço é vão, pois Cânio o mata com a mesma arma utilizada em Nedda.
Há um momento de estupor e o silêncio povoa todo o teatro. Prostrado, Cânio deixa-se à disposição de quem o queira punir e enquanto olha para o vazio, exclama: “La Commedia é finita!”.
É o fim da Ópera.

Histórico

Segundo a tradição, o tema central da Ópera é derivado de um caso real, contado pelo pai do autor, que durante algum tempo foi Juiz de Direito numa pequena vila e presidiu o julgamento de um proprietário de circo que matou a esposa infiel, após flagrar-lhe com um habitante local.
Essa característica contribuiu enormemente para que a obra se tornasse uma das mais significativas da chamada “Corrente Verista (de vero, verdadeira)”, cujos argumentos sempre trazem fatos reais, ainda que sejam duros, cruéis, amargos.
Leoncavallo escreveu o libreto dentro dos parâmetros dessa tendência e teve no editor Sonzogno o seu primeiro incentivador, cuja admiração foi fundamental para que o espetáculo se materializasse.
A estreia aconteceu no Teatro Dal Verme, em Milão, dois anos depois do enorme sucesso da “Cavalleria Rusticana (ver ensaio)” de Mascagni.
E tal como a antecessora, “Pagliacci” logo obteve um grande êxito de Crítica e de público, tanto em suas apresentações solos, quanto nas ocasiões em que foi apresentada em conjunto com a obra de Mascagni, sob o argumento de serem ambas da “Escola Verista”.
Atualmente, é uma das mais conhecidas e continua a desfrutar de muito prestígio em todos os segmentos sociais, pois além de sua própria grandiosidade, o seu tema é particularmente caro a todos com um mínimo de sensibilidade.


Rio de Janeiro, 15 de julho de 2015.
Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.

terça-feira, 14 de julho de 2015

A Moça de Cima


O espelho que não posso ver
(e que tanto me atemoriza),
anuncia-se.

Em quanta angústia ela se exaure
para que necessite que eu a saiba?

Sou a aranha kafkaniana a ser seguida
por teias inexplicáveis.

Estão iniciados os terrores noturnos
em que os invisíveis, mas sabidos,
olhos paranoicos da moça de cima
esquadrinham a minha solidão insone.

Os passos que pisa e a mobília que arrasta
são duros, secos, aflitos.
São gritos.

Rudes gemidos, sem a elegância
dos líricos sofrimentos.

Quão pouca ciência impede-lhe de ver
que a soma de nossos nadas
proíbem uma mera unidade?

Em qual vazio se debate o seu desespero
em busca de uma luz
que já não tenho?



Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.

sábado, 11 de julho de 2015

O Grito





Libertemos a fúria vingadora do grito
e não fujamos da inevitabilidade do atrito,
pois é vã a tristeza carola do homens tristes.

Saudemos, pois, a insolência dos loucos
e a petulância dos poetas poucos,
pois sempre haverão camas, musas e orgasmos
para que saibamos ver a eternidade
na beleza efêmera
do voo de Papillon.






Para a Moça Bonita do Anjo Branco.


Lettre la Art et la Culture
Enviado por Lettre la Art et la Culture em 11/07/2015


sexta-feira, 10 de julho de 2015

Cavalleria Rusticana, Mascagni - Óperas, guia para iniciantes.


Cavalleria Rusticana

Autoria – Mascagni (Pietro – 1863-1945 – Itália).

Libreto – Giórgio Targioni Tozzetti e Guido Menasci

Personagens

Santuzza – protagonista – interpretada por uma Soprano.

Turiddu – idem. Interpretado por um Tenor.

Àlfio – interpretado por um Barítono.

Lola – interpretada por uma Mezzo Soprano.

Mamma Lucia – interpretada por uma Mezzo Soprano.

Local e Época

Aldeia siciliana – meados do século XIX

Nota de Esclarecimento.

Sem que se tenha certeza do real motivo, mas, provavelmente por equivocada aproximação fonética e gramatical, especialmente no Brasil, o tema musical dessa Ópera costuma ser associado a qualquer tipo de exercício equestre, como cavalgadas, batalhas entre cavalarias, shows de adestramento, desfiles e coisas do gênero.
Porém, como se disse, é apenas um equívoco, ainda que costumeiro; pois, em verdade, a tradução literal do título é: “Cavalheirismo rústico” ou, estendido, “fidalguia provinciana” etc.
E a história que a Ópera conta é a história de um amor mal sucedido que termina em tragédia. Bem distante, como se pode ver, de qualquer elemento equino.
Outra singularidade que merece algumas linhas é a sua exiguidade, já que ela cabe em um único ato.
Todavia, essa limitada dimensão em nada prejudica a sua grandiosidade, a qual, aliás, tornou-a vencedora de um importante concurso em sua estreia e a faz ser, ainda hoje, a favorita de uma imensa legião de admiradores.
Feitos esses esclarecimentos, passaremos ao Enredo.

Enredo

O cenário inicial do único ato da Ópera reproduz a tradicional praça de uma aldeia da Sicilia, sul da Itália, na manhã de um domingo de Páscoa.
Em pouco tempo o prelúdio executado pela orquestra a todos contagia – inclusive ao público – e apenas quando a “Siciliana” é substituída por um ritmo mais nostálgico e dolentemente amoroso é que arrefece o entusiasmo inicial.
Todos se quedam para ouvir Turiddu que canta sob a janela de Lola, o seu grande e perdido amor, na esperança de reconquistá-la.
Porém, tão logo termina a romântica ária, a orquestra volta a executar a “Siciliana” e o clima de festa é retomado, especialmente pelas jovens camponesas que não se cansam de louvar os pássaros, as flores, os laranjais etc., enquanto seus companheiros exaltam as delicias do amor. Celebra-se a Páscoa e todos estão determinados a festejar ao máximo possível.
Enquanto isso, Santuzza conversa com Lucia, a “mamma Lucia”, a respeito do filho desta, Turiddu.
Ao contrário do que diz a mamma, Santuzza afirma tê-lo visto na aldeia, durante a madrugada e não a caminho de Francofonte para buscar vinho, conforme havia sido combinado com Lucia.
Mamma Lucia se desconcerta com essa nova informação e convida a jovem a entrar em sua casa, mas Santuzza declina do convite alegando ser uma proscrita e excomungada “moça desonrada”. É um autojulgamento severo, mas, nesse momento, ela nada fala sobre os motivos daquela condenação, tampouco sobre o que torna o seu coração tão sofrido.
Nesse momento juntam-se às duas mulheres, Àlfio e alguns amigos seus. Após os cumprimentos de praxe, ele pergunta à mamma sobre o seu excelente e famoso vinho e quando Lucia diz que o seu filho foi buscá-lo, ele retruca dizendo ter avistado Turiddu na aldeia, rondando a sua vivenda.
Mamma Lucia tenta contra-argumentar, mas é impedida por Santuzza e Àlfio se despede, indagando-lhes se não irão à igreja para os ofícios religiosos.
Entrementes o Coral entoa o célebre “Hino da Páscoa” e Santuzza ajoelha-se na calçada e louva a “ressurreição de Cristo”. Em seguida, reaproxima-se da mamma e ao entoar a ária “Voi lo Sapete (Vós o sabeis)” conta de seu sofrimento, já que Turiddu era noivo de Lola até ser enviado para a guerra, quando, então, foi trocado por Àlfio. Ao regressar, triste e decepcionado, o filho da mamma Lucia, aproximou-se de si e ela se entregou completamente, para, logo depois, vê-lo desinteressar-se e voltar a cortejar a ex-noiva.
Mamma Lucia mostra-se estupefata com tais revelações, pois ao contrário da maioria dos aldeões, ela de nada sabia. E tal é o seu estupor que ela mal percebe a chegada de seu filho, a quem cumprimenta rapidamente antes de deixar a cena.
Ficam apenas Santuzza e Turiddu e quando ele responde à sua indagação, dizendo que foi, sim, em Francofonte, ela explode de indignação e raiva e o acusa de mentiroso, traidor e de tolo, por continuador apaixonado pela traidora Lola. 
Antes, porém, que ele possa retrucar, aproxima-se do casal a própria Lola perguntando se viram o marido Àlfio e se eles não irão à igreja? Em resposta, Santuzza diz rispidamente que: “só vai à igreja quem não tem pecados”.
Lola afasta-se e Turiddu fala furiosamente com a jovem, não se acalmando nem quando ela diz que ainda o ama. Cego de fúria, ele chega a empurrá-la com violência antes de se dirigir ao Templo, na tentativa de se aproximar da mulher que o trocou por outro.
Ferida e humilhada, Santuzza chora e amaldiçoa Turiddu e quando Àlfio se aproxima ela não titubeia em dizer que a sua mulher, Lola, o trai com o ex-noivo. Contudo, antes de sentir o prazer da vingança, um medo terrível a assalta, pois conhecendo o temperamento explosivo de Àlfio, ela pressente que abriu as portas para uma tragédia enorme. Ressoa-lhe permanentemente a ameaça que ele deixou no ar: “até o fim do dia, estarei vingado” e o arrependimento se instala definitivamente em seu coração.
Um clima de extrema tensão permeia por todo o teatro e só é suavizado pelo interlúdio que a orquestra executa enquanto o cenário é modificado.
Agora, está-se na réplica da entrada da igreja onde os devotos assistiram a Missa de Páscoa. Há um clima ameno, com todos cumprimentando-se e se preparando para os festejos da tarde e da noite.
Entre outros, Turiddu aborda Lola e lhe pergunta se nem ao menos ela o cumprimentará. Temerosa do julgamento dos presentes, ela tenta disfarçar e pergunta sobre Àlfio. Todavia, Turiddu não desiste e a convida a acompanhar-lhe, juntamente com outros amigos, até a taberna.
Ela aceita, imaginando que a presença dos demais impedirá que a sua conduta seja considerada indevida, porém, na hora do brinde tradicional, a todos fica claro a paixão que ela ainda sente pelo ex-noivo.
O ambiente alegre e festivo repete o estereótipo desse tipo de ambiente e situação, mas logo as sombras invadem o local graças à chegada de Àlfio que não esconde o ódio e o ciúme que sente do rival.
O pressentimento de que uma tragédia é iminente toma conta de todos e os tons lúgubres que a orquestra executa acentuam o clima sombrio.
Turiddu tenta demonstrar calma e convida Àlfio a beber em sua mesa, mas o marido de Lola recusa e insultuosamente joga o vinho ofertado ao solo. Está lançado o desafio.
Nisso, Lola e outras mulheres deixam o bar e os dois inimigos se abraçam ritual e friamente, até que Turiddu morde a orelha direita de Àlfio, demonstrando que aceita o desafio.
Estranhos, porém, inequívocos ritos que confirmam o duelo mortal.
Para Turiddu a vida sem Lola não tem sentido e ele se deixaria matar docilmente, mas como dele dependem a mãe Lucia e a jovem Santuzza, enfrentará a luta, no mínimo, para que não recaia sobre ambas a infâmia de uma suposta covardia do filho e namorado.
Assim, através da sentida ária “Addio Alla Madre”, ele pede que mamma Lucia o abençoe como ela fez quando ele foi para a guerra. Ela, sem saber do duelo, estranha o pedido, mas faz a sua vontade, após ele mentir-lhe dizendo que está agindo apenas por efeito do vinho que tomou. Em seguida, volta a se exaltar e despede-se novamente antes de seguir para o local do combate.
Pressentindo que algo terrível está para acontecer, mamma Lucia chama Santuzza e ambas se abraçam vertendo copiosas lágrimas. É uma cena dolorosa e que, geralmente, causa sentidos prantos na plateia.
Pouco depois, um terrível alarido chega às duas mulheres e após alguns instantes elas conseguem decifrar o que grita desesperadamente uma mulher: “mataram Turiddu!”.
É o fim da Ópera.

Histórico

A exemplo do que ocorre nos dias atuais, algumas popularidades são conferidas instantaneamente a indivíduos que, além de sua capacidade, estão no lugar e na hora certa.
É o caso, por exemplo, desse autor, que de obscuro professor provinciano de música, atingiu o estrelato em 1890, logo após a sua obra ter sido apresentada em Roma.
Pietro Mascagni tomou conhecimento pelos jornais de um concurso operístico promovido pela Editora Sonzogno, para uma Ópera de apenas um ato.
Apoiado num Romance (Novela, para o público de língua espanhola) escrito pelo naturalista Giovanni Verga, seis anos antes, e com a ajuda dos libretistas Tozzeti e Menasci, em pouco tempo compôs a sua grande obra, sem imaginar que ela lhe daria o primeiro lugar e a consagração definitiva.
Hoje, a Ópera é uma das mais executadas, tanto pelo equívoco de ser associada a exercícios equestres, quanto por simbolizar o vigor e as cores da típica vida italiana.
Contudo, para além das representações e equívocos, resta o fato inelutável da extrema beleza da composição, que a fez ser um clássico do gênero.

 Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Da Maioridade Penal


- E quanto ao tratamento bucal, Excelência?

- Nem pensar. Imagine o custo de se manter um Serviço de Saúde, digno do nome, para toda a população. Igual ao absurdo de se pagar salários justos para que os pais banquem essas despesas, pois, afinal “o que não mata, engorda kkkkk”. É “a lei do mais forte”, meu caro.

- Se, bobearmos, logo, logo, irão exigir que as Escolas daqui tenham o mesmo nível de países riquíssimos como, por exemplo, o Uruguai e a Argentina. Já imaginou? Você sabe como essa gente é...

- Mas, você, não! Você já está bem crescido para acreditar em “Papai Noel” ou em cidadania, não?

- É certo que nós teríamos recursos para bancar essas despesas, mas, então, eu te pergunto: como iríamos bancar os custos de milhões de Vereadores, Vices e Prefeitos, hein? De milhares de Deputados Estaduais, Vices e Governadores, hein? De centenas de Deputados Federais, Senadores, Ministros, Vice, Presidente e da legião de desocupados, digo, de abnegados Assessores dessa pobre gente? Como, hein? Como iríamos bancar as (os) pobres prostitutas de luxo que os servem para que eles se esqueçam de suas rotinas estafantes? Como iríamos pagar os jatos, os jetons, as práticas corruptas, digo, as lutas abruptas dos nobres edis e governantes? Como, hein? Vamos, responda?

- Com que verba, nossos ilustres gigolôs, digo, representantes, poderiam bancar suas viagens, seus carros, as suas e os seus amantes? E as pequenas mordomias e falcatruazinhas (você sabe, ninguém é de ferro) que todo mundo comete, não é?

- Ora, você não imagina que esses nobres representantes concordariam em abrir mão de suas verbas, jetons, salários, passagens, apartamentos, carros etc. para que o maldito sistema educacional e de saúde fosse melhorado, não é? Ora...

- Esses nobres representantes estão sendo eleitos há décadas e continuarão a ser por mais algum tempo. Você dúvida disso?

- E é graças ao brio e a coragem dessa nobre gente que o Povo obteve a estrondosa vitória que, hoje, eu comemoro, pois sei que esses extorquidos, digo, engrandecidos, cidadãos, continuarão a nos honrar com o voto (é certo que eu tenha que lhes estender a mão e depois desinfetá-la), já que lhes basta algumas medidas paliativas. Isso lhes dá a sensação de serem “agentes políticos kkkk”. Dá-lhes a sensação de que exercem “o Poder”, sacia-lhes o primitivo “instinto de vingança” e lhes oferta a falsa sensação de segurança. Eles adoram essas bravatas.

Portanto, tolo ingênuo, esqueça essa história de “tratamento bucal”, pois se o dente doer, nós o arrancamos e o atiramos no lixo. Digo, na penitenciária.


Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Paraty


Há tanta poesia
que já nem se sabe
em que Céu 
ficaram
os poemas não nascidos.


Lettre la Art et la Culture
Enviado por Lettre la Art et la Culture em 03/07/2015

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Óperas, guia para iniciantes - LUCIA DE LAMMERMOOR, Donizetti - Ensaio Completo.


Autoria Donizetti, (Domenico Gaetano Maria – 1797-1848 – Itália).

Libreto – Salvatore Cammarano.

Personagens:

Lucia di LammermoorProtagonista. Interpretada por uma Soprano.

Edgardo de Ravenswood – Protagonista. Amado de Lucia. Interpretado por um Tenor.

Lorde Enrico Ashton Lammermoor – irmão e tutor de Lucia. Interpretado por um Barítono.

Raimondo – Capelão. Interpretado por um Baixo.

Lord Arturo Bucklaw – Rico e poderoso nobre, escolhido para ser o marido de Lucia. Interpretado por um Tenor.

Normano – chefe da guarda florestal. Interpretado por um Tenor.

Alisa – companheira de Lucia. Interpretada por uma Mezzo Soprano.

Época e Local

Escócia, século XVIII.

Enredo

O primeiro ato tem como cenário a réplica de um campo nas proximidades do arruinado castelo da outrora poderosa família Ravenswood, cuja visceral inimizade com a família Lammermoor é proverbial. Pelas imediações, vaga o jovem Edgardo, o único sobrevivente do clã, após a morte do patriarca que faleceu em negra miséria por ter sido despojado de seus bens por políticas de Estado.
Noutro ponto da cena, já em sitio dos Lammermoor,  o público vê um grupo de caçadores sendo comandado por Lorde Enrico Ashton Lammermoor, por Normanno e pelo capelão Raimondo, que goza de especial consideração de Enrico, por ter sido o seu tutor, assim como, o de sua irmã, chamada Lucia.
Ali estão para surpreender um homem estranho que foi visto rondando o local nos últimos dias. Porém, apesar da busca cuidadosa, nada encontram e decidem retornar ao castelo, falando sobre o assunto que vem lhes preocupando seriamente nos últimos tempos: a dificílima situação financeira que todos os nobres veem enfrentando por conta das disposições da Corte, em Londres.
Para a família Lammermoor, a crise chegou a tal proporção que apenas o casamento de Lucia com o milionário e influente Lorde Arturo Bucklaw pode evitar a bancarrota completa. Um casamento por conveniência, conforme o hábito da época.
O capelão Raimondo tem consciência da necessidade do matrimônio, mas não deixa de argumentar que talvez ainda seja cedo para que a jovem dê aquele passo, pois a recente morte da mãe dos irmãos, seguramente, ainda abala o estado de espírito da donzela.
Normanno, todavia, discorda do religioso e de modo zombeteiro e cínico, diz que o luto não a tem impedido de gozar as delicias do amor. Enrico percebe a ironia e agastado pelo tom que o guarda-florestal empregou, interpela-o rispidamente, exigindo que ele conte todos os pormenores que souber a respeito do tema.
E Normanno não se faz de rogado para revelar que Lucia mantém um romance com o pior dos inimigos de sua família: o jovem Edgardo. A revelação deixa Enrico transtornado. Cego de ódio ele jura matar o último Ravenswood, malgrado os apelos que o capelão Raimondo faz para que ele se acalme e não cometa crime tão hediondo.
E, assim, encerra-se a primeira cena.
A segunda cena é ambientada na reprodução de uma fonte nos jardins do castelo Lammermoor.
Sentadas à beira do chafariz, Lucia conversa com sua amiga e confidente, Alisa, enquanto aguarda a chegada de seu amado Edgardo.
Alisa não esconde da amiga o seu temor de que Enrico descubra aqueles encontros secretos, pois sabe que a sua fúria provocará uma tragédia.
Lucia diz sentir o mesmo medo, principalmente quando está ali, já que o lugar lhe parece lúgubre desde que ela foi assombrada pelo fantasma de uma mulher da família dos Ravenswood, que fora assassinada pelo próprio marido. Entoando a ária “Regnava nel Silenzio”, ela recorda que naquele grande silêncio, apenas a aparição reinava. Foram momentos de terror, que só terminaram com a chegada de seu querido Edgardo: “Quando rapito in estasi”.
Pouco depois entra em cena o jovem Ravenswood que conta à amada de sua breve partida para Paris a fim de tratar de assuntos do governo escocês.
Uma triste noticia para Lucia, que já sente uma antecipada saudade. Porém, nada deve impedir que os interesses do Estado fossem negligenciados e ele a consola lembrando a exiguidade da separação.
Também diz que se fartou desses encontros ocultos e tomou a decisão de falar com Enrico Lammermoor para pedir o seu consentimento para que eles se casem o mais breve possível.
Apesar de ser exatamente o que a jovem apaixonada desejaria, ela sabe que Enrico jamais faria tal concessão e que, ao contrário, isso colocará Edgardo em situação perigosíssima. A brutalidade do irmão lhe é bem conhecida e ela se empenha em fazer com que o amado abandone aquele nobre intento, pois sabe inexequível qualquer consentimento.
Resta-lhes viver a felicidade temporária dos encontros furtivos e esperar que um milagre os favoreça. Resta-lhes confirmar as juras de amor e de fidelidade e celebrar o mutuo afeto, entoando o belíssimo Dueto “Verrano a te Sull´aure”, que encerra o primeiro ato.

§§§

O segundo ato é encenado na reprodução de uma sala do castelo dos Lammermoor. Alguns meses já se passaram desde a partida de Edgardo para a França.
Fora de cena, Lucia lamenta a falta de noticias de seu amor, sem imaginar que as cartas que ele lhe enviou foram interceptadas por seu irmão.
Em cena, Enrico Ashton Lammermoor conversa com Normanno, o chefe da guarda, sobre o seu plano de casar a irmã com o nobre e milionário Lorde Arturo Bucklaw, cuja fortuna, importância social e influência na corte são reconhecidas por todos.
Ele espera, é claro, que tal cunhado possa franquear-lhe portas importantes, das quais surgirão oportunidades e meios para que ele resgate a fortuna e o prestígio que a sua família perdeu.
Porém, para que o matrimônio aconteça será preciso convencer Lucia, que não demonstra ter-se esquecido de seu amado, nem demonstra disposição para obedecer ao irmão.
É um impasse que Enrico terá que solucionar com rapidez e para tanto o abjeto e servil Normanno sugere que se falsifique uma carta, na qual Edgardo comunicaria à Lucia ter-se casado em Paris e que ela deve esquecê-lo, pois, agora, ele teria encontrado o verdadeiro amor de sua vida.
Para Enrico o plano é perfeito e o sórdido Normanno se apressa em redigir o falso texto. Enquanto isso, Ashton fiscaliza os preparativos para a chegada de Lorde Arturo Bucklaw.
Momentos depois, Lucia entra na sala. Traz um semblante pálido e visivelmente sofrido.
Enrico não nota esses sinais de angústia e falsamente gentil elogia o seu porte, a sua elegância, a sua erudita cultura, a sua beleza e, principalmente, a sua retidão de caráter. Diz que ela é uma dama que representa dignamente toda a grandeza de sua família e que, justamente por isso, deverá se casar com um cavaleiro de igual talante, como lorde Arturo Bucklaw.
Ela compreende que o seu futuro marido já está escolhido, mas não se conforma e protesta vigorosamente, apesar das ponderações do irmão, que, ao cabo, implora para que ela concorde com aquele arranjo, haja vista que apenas dessa maneira será possível evitar a ruína total.
Por fim, vendo que não conseguiria convencê-la, ele lança mão da falsa carta, repassando-a a irmã. A angústia de Lucia só aumenta na medida em que vai lendo. Ao final, a sua decepção e tristeza transformam o seu semblante em uma máscara de dor.
Nisso, o capelão Raimondo toma ciência do ocorrido e se põe a consolar a sua tutelada, aconselhando-a a casar-se com Lorde Arturo, pois um “amor perdido, apenas outro amor cura”.
Entrementes, um toque de campanhia anuncia a chegada do futuro marido da jovem e os homens vão recebê-lo. Sozinha, Lucia tenta compreender o porquê da traição de Edgardo.
É o fim da primeira cena.
A segunda cena inicia-se com Lorde Arturo sendo recebido com toda pompa, no suntuoso salão do castelo.
Feliz pela afetuosa recepção, o ilustre pretendente pergunta a Enrico – que lhe chama de irmão, tentando estreitar os laços – acerca dos rumores que ouviu sobre um relacionamento entre Lucia e Edgardo de Ravenswood. O anfitrião responde-lhe que, de fato, o mancebo tentou cortejar a sua preciosa irmã, mas que foi imediata e vigorosamente repelido. Diz-lhe, ainda, que não se preocupe com a tristeza estampada nos olhos e na face de Lucia, pois a sensível donzela, ainda não se recuperou da perda da mãe de ambos. Que ele não pense que a melancolia da irmã seja relacionada com o casamento.
Bucklaw dá-se por satisfeitos com as explicações e ambos trocam algumas amenidades até que Lucia irrompe em cena, totalmente vestida de branco, amparada por Alisa e pelo capelão Raimondo.
Disfarçadamente o irmão ordena-lhe que se controle e que se mostre afável com o seu futuro marido, pois ela bem sabe o quanto aquele enlace é importante para toda a família. Abúlica, ela concorda e com a mão trêmula assina o contrato nupcial.
Nesse instante, escuta-se um grande alarido vindo do fundo da cena. Ao chegar ao procênio, vê-se que é causado pela entrada de Edgardo, acompanhado por um grupo de amigos armados.
Ao ver o contrato de casamento, os trajes de Lucia e os demais preparativos, o jovem Ravenswood compreende o que aconteceu; e sem saber que o comportamento de sua amada foi produzido por uma falsidade execrável, sente reacender o antigo ódio aos Lammermoor em geral e, agora, por Lucia, em particular.
Nesse instante é entoado a célebre “Chi mi frena in tal momento (Quem me impede nesse momento?)?” que acentua o seu desejo de matar Lucia, sem, no entanto, conseguir, porque uma força indefinida o impede.
Lucia, por outro lado, também demonstra toda a amargura que sente, pois também se acha traída por ele, já que acreditou na falsa carta.
É um momento dramático, pois dois jovens corações são impedidos de viverem as delicias do amor. E a dramaticidade do momento contagia a Enrico que se vê tomado pelo remorso, enquanto Alisa, Raimondo e até Bucklaw lamentam os infortúnio da moça.
Nesse ponto, todas as vozes que estão em cena – criados, guardas, testemunhas etc. – juntam-se na ária que deplora o sofrimento de Lucia Lammermoor, criando um clima tão tocante que, não raro, provoca lágrimas e suspiros na plateia.
Contudo, apesar do clima emotivo, Edgardo pede que Lucia devolva-lhe o anel que sinalizava o comprometimento de ambos. É a ruptura definitiva.
Ela entrega-lhe a joia e ele atira o anel violentamente ao solo, cobrindo de maldições à mulher que julga tê-lo traído.
Enrico, então, toma as dores da irmã e desembainha a espada. Edgardo não se amedronta e nem recua e um trágico combate só não ocorre graças à enérgica intervenção do capelão, que só a muita custa consegue serenar os ânimos.
É o fim do segundo ato.

§§§

O terceiro ato é representado inicialmente em uma torre do arruinado castelo dos Ravenswood. A escuridão da noite só é interrompida pelos relâmpagos da tempestade que cai com violência.
Em um dos despojados aposentos da vivenda, Edgardo remoi a sua amargura e a sua ira. A fúria dos elementos corresponde à agitação que lhe vai à alma e que ele expressa ao entoar a bela ária “Orrida è questa notte”.
Ao findar a ária, ele ouve baterem à porta e ao atender depara-se com Enrico, que não pôde suportar as ofensas que ele e a irmã sofreram e, agora, veio desafiá-lo para um duelo mortal, ao amanhecer.
O clima de ódio entre ambos chega a ser palpável e após trocarem pesadas ofensas e duros insultos, Enrico sente o perverso prazer de contar a Edgardo que Lucia e Arturo em breve consumarão o seu casamento e que ele a perdeu em definitivo.
Era a gota que faltava e Edgardo não hesita em aceitar o desafio. Estabelecem, então, que a luta aconteça nas primeiras horas do dia, no cemitério dos Ravenswood.
É o fim da primeira cena.
A segunda cena volta a ser ambientada no grande salão dos Lammermoor.
Novamente encena-se a festa de casamento, mas essa comemoração é muito breve, pois logo surge o capelão Raimondo que do alto da escada pede silêncio e anuncia que uma tragédia aconteceu.
Ante a estupefação geral, ele conta que Lucia assassinou Lorde Arturo Bucklaw num provável ataque psicótico, já que após o crime ela continua segurando o punhal, enquanto balbucia frases desconexas, em evidente sinal de demência.
Nisso, a narrativa do capelão é interrompida pela entrada da própria homicida em cena.
Andando vagarosamente, pálida como um fantasma e ainda vestida inteiramente de branco, ela desce a escadaria dizendo estar imensamente feliz.
Sua presença aterroriza os convidados que não hesitam em franquear-lhe o caminho, mudos de pavor.
Acontece, então, um dos ápices melódicos da obra com a famosa “Cena da Loucura”, na qual a Soprano Coloratura (ver quadro sinóptico) a todos encanta com uma magnífica demonstração de sua capacidade vocal.
E assim se encerra a segunda cena.
A terceira cena é ambientada no cemitério dos Ravenswood.
Sem poder conciliar o sono, Edgardo dirige-se ao “campo santo” bem antes do amanhecer para aguardar o momento do duelo. Junto com a ansiedade pelo embate que em breve travará contra Enrico, sente-se invadido pela tristeza e pela solidão.
Ignorando a tramoias aplicadas contra Lucia, pensa nas juras de amor que ela teria traído; lamenta sua solidão extrema, sem amigos, família e fortuna; concluindo que lhe falta motivos para viver.
São terríveis e sombrios pensamentos que só cessam quando ele escuta alguns camponeses comentarem o acesso de loucura de uma mulher da nobreza que matou o futuro marido e que, por conta da comoção causada pelo surto, encontra-se agonizante.
Edgardo sente o coração congelar, adivinhando tratar-se de Lucia e, intempestivamente, aborda o grupo e confirma que se trata de sua bem amada.
Sim! É a sua adorada que, agora, está à beira da morte.
Sem esperar, parte a pleno galope para o castelo de seu inimigo e sem temer coisa alguma avança pelo caminho íngreme, pois tudo o que pensa e deseja é que Lucia o perdoe. Tudo o que quer é dizer-lhe que, dela, será sempre o seu coração.
Contudo, a sua desabalada carreira é interrompida pelo capelão Raimondo que lhe diz: “de nada adianta tua pressa, Lucia já não é mais deste mundo”.
Olhando para o céu, Edgardo entoa a melancólica ária “Tu Che a Dio Spiegasti L´ali”, expressando o sofrimento que lhe dilacera a alma. Tudo está acabado e só lhe resta juntar-se ao seu grande amor na Eternidade.
Raimondo pressente a sua intenção suicida e tenta impedi-lo, mas é em vão.
Ante o horror de todos os presentes, ele vibra um poderoso golpe de espada contra si próprio e parte para o Além, em busca do amor que não pôde viver nesse mundo.
Então, as cortinas são baixadas e a Ópera é encerrada.

Histórico

Geralmente, o público atribui a originalidade do argumento de dois jovens que se apaixonam mesmo sendo de famílias inimigas, ao grande William Shakespeare, que soube, como raríssimos, utilizar o tema em sua imortal composição “Romeu e Julieta”.
Porém, em verdade, esse argumento remonta aos antigos Escritores Clássicos Gregos, que o utilizaram em algumas de suas célebres Tragédias.
A partir deles, o mote passou a ser frequente nas Artes de forma geral e na literatura dramatúrgica, em especial.
E foi dessa maneira que a temática chegou até Sir Walter Scott que escreveu “A Noiva de Lammermoor”, integrante da série “The Waverley Novels”, considerada clássica.
Baseando-se nesse Romance (ou “Novela”, para o público leitor em espanhol) o libretista Salvatore Cammarano escreveu a parte literária da peça, que Gaetano Donizetti musicou de forma esplêndida, numa inequívoca confirmação de que os temas superiores nunca deixam de serem atraentes, quando bem remontados.
A estreia da Ópera aconteceu quando Donizetti tinha apenas trinta e oito anos de idade, em 1835, na cidade de Nápoles, Itália, e desde então passou a ser constante nas temporadas das grandes companhias do mundo todo.

 Lettré, l´art et la Culture. Rio de Janeiro, inverno de 2015.